Reviravolta
mostra dificuldade do presidente em equilibrar suas alianças de conveniência
A
corrida pela próxima vaga do STF ensina a Jair Bolsonaro o desafio de
equilibrar as alianças de conveniência que o sustentam no poder. A reviravolta
produzida pelo presidente aprofunda seu namoro com a classe política, mas
também coroa seu divórcio com o lavajatismo e aborrece parte da base ideológica
mais radical do governo.
A
escalada do juiz federal Kássio Nunes ao posto de favorito à primeira indicação
de Bolsonaro para a corte se deu contra os sinais públicos que o presidente
emitia sobre a decisão. Nos últimos dias, ele
buscou apoio do centrão e apresentou seu escolhido para ministros do
STF que representam a ala do tribunal mais crítica aos excessos da Lava Jato.
Antes
de chegar ao Planalto, Bolsonaro já explorava o poder de indicar novos
ministros para surfar na onda anticorrupção. Na campanha, ele falou em aumentar
o número de cadeiras do STF e prometeu nomear “dez do nível do Sergio Moro”
para a corte. O papo ajudou a colar sua candidatura à imagem da operação.
O
presidente não demorou a trair quem acreditou na conversa –a começar pelo
próprio Moro. Depois que Bolsonaro escancarou sua intenção de usar a caneta
para proteger seu grupo político de investigações, nem mesmo os lavajatistas em
negação, que ainda apoiam o governo, podem se dizer surpresos.
A
guinada no processo de escolha, se confirmada, frustra segmentos mais
apegados à pauta ideológica em que Bolsonaro se apoia. O presidente
prometeu um ministro “terrivelmente evangélico” para o tribunal, mas depois
modulou o discurso e avisou a pastores que seu escolhido seria apenas um
conservador. Kássio Nunes, no entanto, nunca deu peso público a essa agenda.
Bolsonaro pode repetir com a indicação o mesmo estremecimento que sofreu ao nomear Augusto Aras como procurador-geral. Na ocasião, sua base ficou furiosa e tentou vincular o escolhido ao combate à Lava Jato. Em busca de sobrevivência política, o presidente se mostra disposto a seguir esse caminho.
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