Kássio
atirou no que viu e acertou no que não viu
Bolsonaro
desistiu da escolha de um ministro para o Supremo Tribunal Federal que
atendesse seus convites para tomar cerveja. Uma vez que pode ir, de repente, a
casa de um ministro para reunir-se com ele e com outro e, juntos, avaliarem a
escolha que fez, por que se preocupar com cerveja? Bebe-se uísque.
Dias
Toffoli foi advogado do PT e Advogado-Geral da União no governo Lula. Gilmar
Mendes, Advogado-Geral da União no governo Fernando Henrique. Ora, por que
Kássio Nunes Marques, um piauiense de 48 anos, não pode ser indicado pelo
Centrão? Kássio nem é um Centrão puro sangue. É tudo misturado.
Em
2011, para ocupar uma vaga de desembargador no Tribunal Regional Federal
(TRF1), em Brasília, Kássio contou com amplo apoio político. Wellington Dias,
governador do Piauí eleito pelo PT, o apoiou. O governador anterior, do PSB,
também. E mais Renan Calheiros (PMDB), à época presidente do Senado.
E
o senador por Roraima Romero Jucá (PMDB). E o ex-presidente José Sarney (PMDB).
E, naturalmente, o vice-presidente da República Michel Temer. Além da Ordem dos
Advogados do Brasil. Então a presidente Dilma Rousseff o nomeou, e ele tratou
de empregar sua mulher como funcionária do Senado.
Kássio
estava em campanha para ser ministro do Superior Tribunal de Justiça, e foi
nessa condição que no início desta semana conheceu Bolsonaro no Palácio da
Alvorada, levado por seu conterrâneo, o senador Ciro Nogueira, presidente do
PP, partido do Centrão que aderiu ao governo há poucos meses.
O
papo agradou tanto a Bolsonaro que, a certa altura, ele disse:
–
Você vai ser ministro do Supremo.
Kássio
corrigiu-o, pensando que ele se enganara:
–
Do Supremo, não, do STJ, presidente.
–
Não, vai ser ministro do Supremo – decretou Bolsonaro.
Em
seguida, passou a mão no celular, ligou para Davi Alcolumbre (DEM), presidente
do Senado que luta para ser reeleito, embora a Constituição proíba, e
orientou-o a providenciar às pressas uma reunião com os ministros Gilmar,
Toffoli e Fábio Faria, das Comunicações. E na casa de Gilmar ficou tudo
acertado.
A
ficha de Kássio custou a cair. Bom de gogó, ele faz o gênero falso humilde, mas
é muito esperto e sedutor. Mesmo assim, em alguns momentos da reunião, pareceu
nervoso e meio apalermado. Não era para menos. Foi como se ganhasse, sozinho, o
maior prêmio da Megasena acumulada há meses.
Diz-se,
a seu favor, que a ir para o Supremo Jorge Oliveira, ministro da Secretaria do
Governo e capacho de Bolsonaro, melhor que Kássio substitua Celso de Mello,
obrigado a se aposentar em breve porque fará 75 anos. Só o ministro Luiz Fux,
presidente do Supremo, passou recibo por não ter sido consultado.
Fux
soube da nomeação de Kássio pela imprensa, um descuido de Bolsonaro, ou uma
maldade. Fux sabe que Kássio se aliará à facção dos ministros do Supremo
empenhados em pôr um ponto final na Operação Lava Jato. É o que mais interessa
aos políticos em geral, e também a Bolsonaro à cata de votos para se reeleger.
No passado, o Supremo foi o templo dos juristas consagrados por suas obras de referência. Chegava-se ali com a biografia já escrita. A de Kássio, por sua pouca idade e à falta de títulos admiráveis, mal foi escrita. Ele terá os próximos 27 anos para escrevê-la, parte sob o olhar atento de Gilmar, o mais poderoso ministro do Supremo.
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