Bolsonaro
repete teimosia de Dilma e preocupa aliados
Candidato
a prefeito de Recife, o deputado João Campos (PSB) teme o revés de uma derrota
em dose dupla: para as urnas e para o destino.
Mais
do que vencer a prima Marília Arraes (PT) no segundo turno na principal capital
do Nordeste, João precisa driblar a arapuca eleitoral que o destino armou para
ele.
O
projeto político de João é repetir o pai, Eduardo, e se tornar governador de
Pernambuco num futuro próximo. Mas João não quer repetir o pai, que saiu
derrotado de sua primeira eleição majoritária. Justamente, para a Prefeitura de
Recife.
Eduardo
Campos tinha a mesma idade de João em 1992, quando desobedeceu a recomendação
do avô, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, que o desaconselhou a
concorrer ao comando da capital naquele ano.
Arraes
ponderou que o neto, embora dedicado e competente, era jovem e inexperiente.
Até então, seu único currículo na política era a chefia de gabinete do avô, em
seu segundo mandato no Palácio do Campo das Princesas, de 1987 a 1990.
Arraes
profetizou que Eduardo seria engolido pelos tubarões da política pernambucana.
Ele enfrentaria nas urnas: Jarbas Vasconcelos (MDB), Humberto Costa (PT), André
de Paula (do então PFL de Marco Maciel) e Newton Carneiro (PSC).
Cumpriu-se
o vaticínio de Arraes: aos 27 anos, Eduardo Campos acabou em quinto lugar na
eleição para a Prefeitura de Recife, atrás de quatro lideranças pernambucanas.
Agora,
as coincidências tramam contra João: ele completará 27 anos no próximo dia 26,
a três dias do segundo turno. Terá, então, a mesma idade de Eduardo quando este
concorreu ao comando da capital há quase três décadas. Assim como o pai, seu
primeiro emprego foi a chefia de gabinete do governador - no caso, Paulo Câmara
(PSB), cria política do pai.
Não
se sabe o que pensaria Miguel Arraes, morto em 2005, sobre o embate eleitoral
entre os seus descendentes: a neta Marília e o bisneto João. A pecha da
imaturidade, entretanto, recai sobre João. Não pelo alerta do bisavô, mas pela
acusação da prima e adversária, que exibe trajetória mais longeva que ele na
política.
No
único debate na televisão antes do primeiro turno, Marília apontou o dedo para
o primo, usando o argumento que o avô usou contra o neto no passado. “O debate
mostrou quem é experiente e tem propostas, e quem é imaturo. Eu tenho
trajetória, já o candidato do PSB é inexperiente e fabricado pelo marketing”.
João
concorre menos verde que o pai na disputa atual: além da chefia de gabinete do
governador, também exibe no currículo quase dois anos de mandato de deputado
federal.
Dez
anos mais velha que o primo, Marília foi vereadora em Recife por três mandatos.
Em 2014, quis concorrer a deputada federal pelo PSB, mas não teve o respaldo de
Eduardo, que presidia a sigla. No mesmo ano, ele nomeou João líder da juventude
do PSB, cargo cobiçado pela prima.
Foi
o estopim para o rompimento. Marília filiou-se, então, ao PT. Em 2018,
despontou como nome competitivo para o governo, mas acabou sacrificada em nome
de um acordo que evitou o apoio do PSB à candidatura presidencial de Ciro Gomes
(PDT).
Agora,
o destino pregou uma peça nos petistas. Marília se projeta como a principal
aposta do PT para tentar levar uma prefeitura de capital, depois de um
desempenho a desejar nas eleições municipais. Se João repetir a sina do pai, o
destino pode dar um voto decisivo para Marília no segundo turno. Mas o destino,
aos eleitores pertence.
Teimosia
Um
dos aliados mais antigos do presidente Jair Bolsonaro acredita que ele paga o
preço da teimosia ao sair com a pecha de derrotado nas eleições municipais.
Este
aliado explica assim o desempenho presidencial no pleito: Bolsonaro “jogou
errado” porque entrou tardiamente na campanha, e insistiu em apostar em
candidatos desde o começo comprometidos com o fracasso.
Um
exemplo emblemático é o Coronel Menezes (Patriota), que acabou em quinto lugar
na disputa pela Prefeitura de Manaus. Em nenhum momento na campanha ele
despontou sequer entre os três primeiros colocados nas pesquisas.
Confrontado
por este aliado sobre o apoio inconsequente, Bolsonaro retrucou que não
acredita em pesquisas. Alega que os institutos teriam falhado em sua eleição.
Na tréplica, o aliado ponderou que na reta final, todas as pesquisas o
confirmavam no segundo turno em 2018. Mas o presidente não dá o braço a torcer.
O
presidente também não gosta de ouvir que as incursões pelo país para inaugurar
obras irrelevantes ou inacabadas são inócuas para manter ou alavancar sua
popularidade. Os poucos amigos não-bajuladores o advertem que as claques de
150, 200 pessoas que o recebem nos aeroportos, não representam, nem de longe,
sua aprovação popular naquele Estado. Mas o presidente se irrita e desconversa.
Este
aliado reafirma o que já se sabe até aqui: o presidente é refratário a
críticas. Em vários episódios, demitiu auxiliares que ousaram dizer a verdade.
O exemplo mais recente é o ex-porta-voz, general Otávio do Rêgo Barros.
Os
ouvidos moucos e a aversão às críticas são reclamações que os petistas repetiam
como ladainhas em relação à então presidente Dilma Rousseff. Lideranças
influentes da sigla lamentavam que ela não sabia ouvir, e pagaria o preço da
teimosia, quiçá, da arrogância.
Quando
cedeu aos apelos para ouvir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez um
primeiro gesto: substituiu Aloizio Mercadante por Jaques Wagner na Casa Civil.
Mas já era tarde demais.
Este
aliado critica os conselhos do núcleo político para que o presidente
intensifique o tom moderado. O rompante da semana passada, com o “país de
maricas”, e a menção à pólvora, assustou a ala militar, mais ponderada, e os
aliados de centro preocupados com a reeleição.
O aliado rechaça que Bolsonaro se converta ao centro de uma vez por todas. “Como ele vai se transformar em político de centro, se ele foi de direita a vida toda?” Ele descarta qualquer mudança radical de Bolsonaro. “É uma bobagem falar em conversão, ele nunca vai mudar o jeito de ser”.
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