O
resultado mais importante desta eleição municipal é que ela parece marcar o fim
da polarização dos extremos políticos, caldo de cultura que levou Bolsonaro ao
poder em 2018. A sensação é de que essa maneira de fazer política cansou os
eleitores, que estão procurando coisas novas, não necessariamente do ponto de
vista etário, mas diferente do cardápio que foi oferecido em 2018.
O
fracasso do governo Bolsonaro, juntamente com a “nova política”anunciada na
campanha presidencial e que acabou ancorada na velha política, mostra que o
presidente fez bem ao escolher aliar-se ao Centrão para organizar sua base
congressual, mas também que ele agora tem menos força na negociação com seus
novos parceiros.
PP
e PSD são as estrelas do Centrão, mas partidos que abandonaram o grupo para uma
posição independente, como DEM e MDB, também se destacaram. O Centrão é
tradicionalmente formado por partidos que se adaptam a qualquer governo, e essa
maleabilidade também é uma ameaça à composição parlamentar de Bolsonaro, pois,
para se posicionarem em outros caminhos, não custa. Até na esquerda os
eleitores procuraram novas alternativas, a mais emblemática o PSOL, que não
quer ser moderado, mas não está envolvido em corrupção, ao contrário, nasceu da
revolta de alguns membros do PT com relação à corrupção, quando da confissão do
marqueteiro Duda Mendonça, que admitiu ter recebido pagamento do PT em contas
no exterior no mensalão.
O
choro na ocasião de deputados petistas como Chico Alencar, que ontem teve uma
grande votação no Rio como vereador pelo PSOL, ainda marca essa dissidência.
Não é de estranhar que o PSOL continue aliado do PT, assim como o PSDB, nascido
de uma dissidência dentro do MDB, ganhou vida própria, mas não impediu que os
tucanos aderissem ao governo Michel Temer. Mas são bichos diferentes.
Está
claro que as pessoas querem eficiência – para prefeito, essa exigência ainda é
mais forte –, mas diante da tragédia que é o governo Bolsonaro, essa tendência
vai contar mais na disputa presidencial em 2022 do que contou em 2018. A
capacidade de gestão, o conhecimento, a experiência do candidato, passaram a
contar para além da disputa ideológica.
Em
São Paulo, o candidato do PSOL Guilherme Boulos, que teve uma votação
importante, superando candidatos tradicionais como Marcio França ou Russomano e
tornando-se o líder hegemônico da esquerda neste momento, vai procurar jogar o
prefeito Bruno Covas para a direita, enquanto Covas já começou a colocá-lo como
radical.
Ontem
mesmo, depois do discurso de Covas na noite anterior dizendo que os paulistanos
recusam o radicalismo, o governador tucano João Doria, candidato potencial
do PSDB à presidência da República, disse uma frase que resume o que será
a campanha nesse segundo turno: “Aqui, nós defendemos a propriedade privada,
eles invadem”.
A
pandemia foi fator preponderante nessa eleição. Ficou claro que governadores e
prefeitos que tiveram atitudes firmes no combate ao coronavirus, à Covid -19,
que adotaram desde o início o afastamento social e a obrigatoriedade de usar
máscaras foram recompensados no final pela população, que entendeu que não era
uma política contra, mas a favor dela.
É
a antítese da pregação de Bolsonaro, que foi derrotado fortemente nessa
eleição, não apenas pelos candidatos que apontou terem sido derrotados na ampla
maioria dos casos, mas porque a visão dele da pandemia foi derrotada. Ele mesmo
ficou irritado, recentemente comentou não entender como os políticos que
fecharam tudo, quebraram a economia, estão sendo reeleitos.
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