Em
2018, vimos a extrema direita antipolítica vencendo por todo lado. Em 2020, a
velha política voltou com tudo
Não
sei o que Bolsonaro tinha em mente ao escolher candidatos a prefeito e vereador
para apoiar nestas eleições, contrariando a sua própria decisão anterior
de não
apoiar ninguém.
Em
2018, bastava se colar a Bolsonaro para ser alçado às alturas. Em 2020, o nome
Bolsonaro já
não carrega tanto poder. Dos 59 candidatos a prefeito e vereador apoiados
pelo presidente, só 13 venceram. Além disso, dos 68 candidatos que usaram
o nome “Bolsonaro” na urna, apenas um foi eleito: seu filho Carlos
Bolsonaro, com votação
consideravelmente menor do que em 2016.
O
presidente logo foi às redes sociais explicar como o mau resultado de seus
candidatos não significa muita coisa para as ambições do bolsonarismo em 2022.
E
ele está certo, mas só o fato de ter que se explicar já é embaraçoso e mostra
que houve uma decepção. Previsivelmente, deputadas bolsonaristas (Carla
Zambelli, Bia Kicis) já acusam fraudes
nas urnas, mas ninguém as leva a sério.
Só
não pense que o contratempo bolsonarista significou algum grande ganho para a
esquerda. Ela também perdeu espaço. O PSOL teve ganhos, especialmente de prestígio
em capitais, mas ainda é pequeno. De resto, PT, PC do B, PDT, PV, Rede e
PSB perderam espaço (prefeitos e vereadores) e não foi pouco.
Ressalte-se
que o PSDB, embora bem posicionado em capitais, também perdeu expressivamente.
Idem para o MDB, embora em menor escala.
Se
a esquerda e o centro tradicionais perderam, quem faturou foi a direita não
bolsonarista e os partidos do chamado “centrão”, DEM, PP, PSD, Podemos,
Republicanos, PL, PSL, Avante. Em 2018 vivenciamos um verdadeiro furor
revolucionário, com a extrema direita antipolítica vencendo por todo lado. Em
2020, a “velha política” voltou com tudo.
Estaremos
fadados a oscilar entre fanatismo e fisiologismo, bolsonarismo e centrão? Como
fica nossa esperança de uma política que não deixe de negociar mas o faça
baseada em propostas e valores, e não apenas interesses partidários? Nem tudo
está perdido. Os esforços de uma escola de formação política como a Renova BR,
que prepara pessoas comuns para ingressarem na vida política, começam
a dar frutos: foram dez prefeitos e 136 vereadores eleitos.
Além
disso, São Paulo pode ser uma vitrine para o bom embate político. Dos segundos
turnos possíveis, tenho que Bruno Covas e Guilherme Boulos é o melhor.
A
escolha está clara e ambos os candidatos são sérios. Covas representa a aposta
numa gestão eficiente, no equilíbrio fiscal e na parceria com a gestão privada.
Boulos, a crença num Estado mais atuante, mais redistribuição e disposição a
sonhar utopias.
Ainda
é cedo para comemorar. É muito fácil que a campanha descambe para acusações de
fascismo e comunismo. Nesse campo, a esquerda fez escola. Por anos a fio,
ouvimos que FHC, Serra, Alckmin e até Marina eram fascistas. Nos últimos anos,
a direita não deixou por menos.
Prefiro,
contudo, acreditar que um debate público qualificado na era das redes sociais é
possível. Claro que tenho minha preferência nessa disputa. Mas,
independentemente de quem vença, se tivermos duas semanas propositivas, sem
inundação de fake news e
sem histeria, buscando persuadir o eleitor indeciso ou mesmo do campo oposto, e
não hostilizá-los, já considerarei uma vitória.
*Joel
Pinheiro da Fonseca, economista, mestre em filosofia pela USP.
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