A
campanha para prefeituras mostra consistência de vários candidatos da nova
safra
A
turma do anime e do videogame está pronta para invadir, novamente, os gabinetes
do Brasil. As eleições para prefeito confirmarão uma forte tendência do pleito
legislativo de 2018: a chegada de uma nova geração à vida política brasileira.
O podcast Política
Sub 30, apresentado por Adriana Ferraz e Paulo Beraldo, jornalistas
do Estadão,
traçou recentemente o retrato dos parlamentares jovens que brotaram de todos os
lados do espectro político, de Dani Monteiro a Kim Kataguiri, de Tabata Amaral a Enrico Misasi. Vários integrantes da
mesma turma disputarão o voto nos municípios brasileiros.
É
uma geração que, contrariando a praxe de Brasília, não espera quinta-feira para
pegar um avião e ir ao encontro de suas “bases”. Eles não têm bases – têm
redes. Estão em contato em tempo real com os movimentos que os elegeram, as
universidades onde estudaram, os centros de pesquisa nas áreas em que atuam. O caso
sobre o auxílio emergencial, narrado há algumas semanas neste espaço, é
ilustrativo. Para ajudar a colocar o projeto de pé, 163 organizações se uniram
e se mantiveram em conexão permanente com jovens congressistas. Até o último
minuto, os técnicos da aliança faziam cálculos e passavam à deputada Tabata
Amaral.
É
a tal sociedade civil, com a qual a nova geração de políticos mantém contato.
Vários de seus protagonistas – alguns deles, quem sabe, dispostos a disputar
votos em eleições vindouras – estão em outra série de podcasts, Estadão Cidadania. O último
episódio da primeira temporada, lançado hoje, traz um convidado especial. Jovem
político no tempo do combate à ditadura, Fernando Henrique
Cardoso fala dos políticos jovens do Brasil de hoje.
Na
virada dos anos 1950 para 1960, Fernando Henrique fazia parte de um grupo de
professores em início de carreira que se reunia todos os sábados para estudar.
Queriam entender a obra de Marx – o Karl –,
autor muito citado e pouquíssimo lido no Brasil. Era uma época em que não havia
computador pessoal, celular ou Facebook, e Mark – o Zuckerberg – nem sonhava
em nascer. A seu modo, a turma criou e cultivou redes. Parte de seus
integrantes ajudaria a fundar, anos mais tarde, o PSDB e o PT.
Os
jovens que nasceram na era Mark, o Zuckerberg, têm tanta sede de conhecimento
quanto a geração que lia Marx, o Karl. Isso fica claro num dos episódios do
podcast Política Sub 30, protagonizado pelo deputado Felipe Rigoni e intitulado
“O menino que estudou para ser político”. Vários deles vêm de movimentos da
sociedade civil e fizeram cursos de formação. A turma de Marx estava
interessada nas ideias filosóficas que regem os governos. A turma de Mark é
mais pragmática: quer saber quais políticas públicas dão resultado, como foram
aplicadas em outros países e em que medida podem nos inspirar.
Em conversa comigo e com Eduardo Kattah, editor de Política do Estadão, Fernando Henrique fala de sua admiração pela destreza dos jovens nas redes sociais, e ressalta que relevância digital só tem valor quando se tem o que dizer e se sabe o que fazer. A campanha para as prefeituras mostrou a consistência de vários candidatos da nova safra. Num momento em que a geração que construiu nossa democracia começa a sair de cena, e o País parece preso a uma triste transição, é alentador saber que jovens que estudaram para ser políticos e estão conectados com a sociedade civil começam a converter seus seguidores em eleitores.
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