Recados
do Comandante do Exército a quem interessar
Ao contrário do seu antecessor, o general Eduardo Villas Boas, que gostava de falar e que pelo menos uma vez pressionou o Supremo Tribunal Federal para que negasse habeas corpus pedido por Lula, o general Edson Leal Pujol pôs uma trava na língua desde janeiro de 2019 quando assumiu o comando do Exército.
Em
julho daquele ano, baixou uma norma para frear o ativismo político de soldados
e oficiais nas redes sociais. Vinculou suas manifestações ao que está
“fielmente prescrito no Estatuto dos Militares e no Regulamento Disciplinar do
Exército”. E para dar o bom exemplo, fechou suas contas no Twitter e no
Facebook.
Quando
o presidente francês Emmanuel Macron criticou o governo brasileiro por causa
das queimadas na Amazônia, e Villas Boas, então assessor do Gabinete de
Segurança Institucional da presidência da República, falou em “ameaça de
guerra”, Pujol tirou por menos. Disse à saída de uma visita ao Congresso:
–
A França é um país de tradição de liberdade e de democracia. Certamente não há
motivos para nós nos sentirmos ameaçados.
Em
novembro de 2019, às vésperas de mais um aniversário da Proclamação da
República, falou pela primeira vez. Numa curta ordem do dia com apenas sete
parágrafos, valeu-se três vezes da palavra “profissão” ou “profissionalismo”
para destacar o compromisso do Exército com a liberdade e a democracia.
E
agora, exatamente um ano depois, voltou a falar. Em uma live, na quinta-feira,
foi curto e grosso: “Nosso assunto é militar. Não nos metemos em áreas que não
nos dizem respeito. Não queremos fazer parte da política governamental ou do
Congresso Nacional e muito menos queremos que a política entre em nossos
quartéis”.
Ontem,
em palestra na Escola Superior de Guerra, Pujol retomou o assunto. Não poderia
ter sido mais claro:
“Não somos instituição de governo, não temos
partido. Nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências de
determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da
Nação. Elas são instituições de Estado, permanente. Não mudamos a cada quatro
anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões”.
O
general deve ter lá suas razões para quebrar o silêncio por dois dias seguidos.
Afinado com ele, seu colega de farda Hamilton Mourão, vice-presidente da
República, correu a apoiá-lo. Segundo Mourão, quando a política entra nos
quartéis pela porta da frente, a disciplina e a hierarquia vão embora pela
porta dos fundos.
Há
poucos dias, as Forças Armadas foram alvo de chacotas depois que o presidente
Jair Bolsonaro, ao refletir sobre o risco de o presidente eleito dos Estados
Unidos impor sanções econômicas ao Brasil se ele não cuidar melhor da Amazônia,
disse que quando a diplomacia fracassa só resta o caminho da pólvora.
Os
militares ficaram muito constrangidos com isso. Antes haviam ficado com a
humilhação imposta por Bolsonaro ao general Eduardo Pazuello, ministro da
Saúde, desautorizado por ele ao anunciar que o governo compraria a vacina
chinesa contra o coronavírus. Bolsonaro concordara com o anúncio, mas recuou.
O
constrangimento cresceu porque, somente nesta semana, Bolsonaro bateu duas
vezes de frente com Mourão e por motivos fúteis. O primeiro, por Mourão ter
dito que considerava Joe Badin praticamente eleito – coisa que voltou a repetir
ontem. O segundo, por causa de um estudo do Conselho Nacional da Amazônia.
Pujol
parece ter traçado uma linha que não deve ser ultrapassada nem por seus
colegas, muito menos pelo presidente da República que sempre se comportou como
uma vivandeira de quartel, “a bolir com os granadeiros e a provocar
extravagâncias do poder militar”, na feliz expressão do ex-presidente Humberto
Castelo Branco.
Melhor
Bolsonaro já ir se acostumando.
Bolsonaro e Mourão discutem a relação, mas a discórdia prossegue
Fidelidade
a Trump a toda prova
O
presidente Jair Bolsonaro e seu vice, o general Hamilton Mourão,
conversaram na última quinta-feira numa tentativa de acertar os ponteiros.
Foi um encontro sem testemunhas.
O
pouco que se sabe a respeito vazou por um ou por outro Lavaram roupa suja.
Despediram-se com promessas de jogarem juntos, quando nada porque não há outro
jeito.
Mourão
não recuou das suas posições, nem Bolsonaro das dele. E por não ter feito voto
de silêncio, uma vez perguntado ontem, afirmou que dá Joe Biden como eleito nos
Estados Unidos.
Não
é só Mourão que dá, mas os chefes de Estado do mundo inteiro, incluindo o Papa
Francisco. Menos os presidentes da Rússia, do México e naturalmente do Brasil.
Até Trump, em sua primeira fala pública depois da eleição, escorregou e quase reconheceu sua derrota. Bolsonaro detestou o que disse Mourão, mas perdoou Trump.
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