A
eleição americana, que hoje tem seu dia D, está sendo marcada pelo acirramento
do conflito racial. Foram mortes em série, desde George Floyd, e manifestações
constantes. O que agravou a tensão foi a atitude do presidente Donald Trump de
não manifestar solidariedade às vítimas e ainda se recusar a condenar grupos
supremacistas brancos. O voto dos negros sempre foi majoritariamente contra os
republicanos. Negros, latinos e jovens serão decisivos, indo ou não indo votar.
Os
latinos também votam mais azul que vermelho, mas numa proporção menor que os
negros. O banco de dados da Universidade de Cornell registra que, em 2016, 89%
dos eleitores negros votaram na candidata democrata e 66% dos latinos. Juntos,
negros e latinos são 34% do eleitorado. O grupo latino é tratado como unidade
apenas para efeito estatístico, mas é muito heterogêneo. Há uma enorme
diferença entre um brasileiro que foi para Nova York, um cubano de Miami ou o
mexicano da Califórnia.
Alguém
pode concluir que, como sempre votaram mais nos democratas, isso não fará
diferença. Mas nesta dramática eleição em que se joga o futuro do mundo, cada
voto conta. Na Flórida, onde o eleitor latino tem mais inclinação republicana,
houve um aumento de meio milhão de eleitores registrados em relação à última
eleição, saíram de 2 milhões para 2,5 milhões. Porém há mais eleitores
democratas entre os que se registraram. Há quase um milhão de eleitores latinos
democratas na Flórida contra 640 mil republicanos. Flórida é um dos estados
decisivos e é o terceiro em voto latino, depois da Califórnia e do Texas.
O
eleitorado jovem deve bater este ano o recorde de comparecimento às urnas. O
grupo etário não se dispõe muito para o ato de votar, mas as pesquisas feitas
pelo Center for Information and Research on Civic Learning and Engagement
(Circle) da Universidade de Tufts, mostravam, no dia 30, que em oito estados os
eleitores jovens (18-29 anos) que anteciparam o voto já tinham superado o total
de comparecimento desse grupo etário em 2016. Ao todo, sete milhões a mais do
que os eleitores que compareceram às urnas na última eleição. Em 14
estados-chave eles podem decidir tanto a presidência quanto a disputa para o
Senado. Um seminário em Harvard com vários especialistas chegou à mesma
conclusão. Desta vez, os jovens estão indo às urnas.
Se não fossem todos os motivos para considerar que a derrota de Trump é o melhor desfecho para esta eleição, há ainda o fato de que a diversidade americana se amplia e o candidato republicano não consegue representar essa sociedade. Se os democratas vencerem, o posto de vice-presidente será ocupado pela primeira mulher, a primeira negra, a primeira pessoa descendente de mãe asiática e pai jamaicano a chegar nessa posição. E pela primeira vez haverá um second gentleman no país. Doug Emhoff será o primeiro judeu nesse quarteto, de presidente, vice-presidente e seus cônjuges. Emhoff deu uma pausa na sua carreira de advogado para se dedicar à campanha e é considerado uma das armas secretas por atrair também a comunidade judaica. O jornal “Washington Post” fez uma divertida matéria sobre ele, contando da amizade entre Kamala Harris e a ex-mulher dele, uma produtora de cinema de Los Angeles, Kerstin Emhoff. A matéria mostrava que ele tem feito perfeitamente o papel do “homem por trás de uma grande mulher”, invertendo a expressão sempre usada sobre as mulheres de homens públicos.
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