A
maioria das pesquisas aponta a vitória de Biden, mas há cenários em que é
possível a reeleição de Trump, mesmo que a maioria dos eleitores tenha votado
no democrata
O
mundo acompanha com grande expetativa as eleições norte-americanas, com as
pesquisas de opinião apontando o favoritismo do democrata Joe Biden.
Entretanto, o presidente republicano Donald Trump não se deu por vencido e
trabalha abertamente para melar o resultado das eleições. Faz uma aposta no
tapetão da Suprema Corte, cuja maioria é bastante conservadora, prometendo
judicializar o pleito. Deseja questionar os votos por correspondência e não
pretende aguardar o resultado final da apuração das urnas, declarando-se
vencedor, caso nas primeiras 24 horas de contagem dos votos esteja em vantagem
em relação a Biden.
Ontem,
mais de 90 milhões de cidadãos norte-americanos já haviam votado e são
exatamente os votos dos últimos dias, que vão se somar aos de hoje, que
retardarão o resultado da contagem. A maioria das pesquisas aponta a vitória de
Biden, mas há cenários em que é possível a reeleição de Trump, mesmo que a
maioria dos eleitores tenha votado no democrata. Porque eleição do presidente
dos Estados Unidos se dá num colégio eleitoral, cujos delegados são eleitos em
bloco nos estados, não importa a proporcionalidade de votação dos candidatos.
Simplesmente, quem ganha a votação no estado indica todos os seus delegados.
Por
isso, a última semana de campanha foi um jogo de xadrez eleitoral, no qual os
candidatos se movimentaram mirando eleitores indecisos, para obter resultados
que possam alterar a correlação de forças no colégio eleitoral. Por exemplo, na
Flórida, que tem 29 delegados, nas últimas cinco eleições os republicanos
venceram três vezes e os democratas, duas. Trump tenta reverter a derrota
prevista para Biden por este estado, onde a diferença era apenas de três
pontos. Além de assegurar a vitória onde é líder — Iowa (+1 ponto nas
pesquisas), Texas ( 2), Ohio ( 2), Alaska ( 6), por exemplo —, precisaria
vencer em outros estados voláteis, como a Geórgia (0) e a Carolina do Norte
(-3). E resgatar o Cinturão da Ferrugem — Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Minnesota
—, onde garantiu a vitória contra Hillary Clinton, em 2016. É muito difícil.
Trump
deu um cavalo de pau na política mundial: os EUA saíram do Acordo do Clima de
Paris, repudiaram o acordo com o Irã, voltaram atrás no relacionamento com
Cuba, atropelaram as regras da Organização Mundial de Comércio. Fomentaram uma
onda conservadora e nacionalista em todo o mundo, aliando-se aos líderes mais
populistas e reacionários do planeta. A derrota de Trump para Biden pode
alterar esse curso, com reflexos benéficos para a cooperação internacional, os
direitos humanos, as mudanças de gênero e a renovação da cultura, inclusive
aqui no Brasil.
Sim, porque a política do presidente Jair Bolsonaro está atrelada à estratégia de Trump, não somente nos fóruns internacionais, mas também internamente, ainda que isso não faça nenhum sentido do ponto de vista da nossa inserção na economia global, pois nosso principal parceiro comercial é a China. Se Biden vencer, a guerra comercial com a China vai continuar, mas focada na questão da democracia, dos direitos humanos e das relações trabalhistas, nos fóruns internacionais. Terá reflexos também no Brasil, sobretudo em relação ao respeito às instituições democráticas, aos direitos civis e ao meio ambiente. Por isso, a permanência do chanceler Ernesto Araujo e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no governo será ainda mais questionada.
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