Samuel
Wainer sacrificou valores em suas relações com políticos e empresários
Não
tenho diploma de jornalista. Mas tive a sorte de fazer um intensivão de dois
anos como colunista de Samuel Wainer, que revolucionou a imprensa brasileira no
século passado e foi um personagem de grande influência política nos governos
Vargas e João Goulart.
Samuel
era um colosso de charme e simpatia, cabeleira prateada, inteligência rápida e
aguda, e inesgotável capacidade de trabalho, movido a anfetaminas, que dedicou
sua vida, sua saúde e sua integridade a seu jornal “Última Hora”, estabelecendo
novos padrões de qualidade de textos e fotos e novos patamares salariais de
jornalistas, mudando o rumo da imprensa no Brasil. Tão poderoso foi Samuel em
seu tempo, que teve relações quase carnais com o poder, como conselheiro
influente de Getúlio Vargas e João Goulart e apoiado por financiamentos eternos
do Banco do Brasil.
Judeu
pobre do Bom Retiro, imigrante da remota Bessarábia, Samuel realizou o sonho de
qualquer jornalista: o repórter que vira dono de jornal. Um jornal moderno e
popular, que chegou a rodar sete edições regionais diárias e teve influência
decisiva em momentos cruciais do país. A sensacional biografia de Samuel,
narrada com precisão e paixão por Karla Monteiro, é como uma história do poder
no Brasil vista de dentro, protagonizada por um homem carismático que
despertava paixões e teve em Carlos Lacerda seu maior inimigo, que o odiava
tanto que às vezes até parecia amor, pelo avesso. Samuel era irresistível, não
se sabe de quem tenha trabalhado com ele e não tenha se apaixonado. Eu fui um
deles.
Samuel
também gostava de luxo, de beleza, era um cidadão do mundo, elegante e
sofisticado, mas gostava acima de tudo do jornal e, em nome dele, sacrificou
valores materiais e morais em suas relações com políticos e empresários.
Afinal, a causa era nobre, os fins justificavam os meios, só custava algum
cinismo. Mas, no final, o herói morre pobre.
A vida vertiginosa de um personagem fascinante, num livro eletrizante, contando a história do homem que estava lá. E ainda está.
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