Na
terça-feira, Jair Bolsonaro ameaçou trocar a saliva pela pólvora nas relações
com os Estados Unidos. Já se passaram três dias e ele ainda não mandou a FAB
bombardear a Estátua da Liberdade. A bravata só serviu para expor os militares
ao ridículo. Os generais que se associaram ao capitão não podem nem reclamar.
Bolsonaro
eleva o tom das sandices sempre que se vê em apuros. É uma tática conhecida. A
cortina de fumaça ajuda a desviar a atenção e manter a tropa mobilizada. Na
terça, não funcionou. Além de delirar com uma guerra impossível, o presidente
marcou gol contra ao escancarar sua politicagem com a vacina. No mesmo dia, ele
comemorou um suicídio, chamou os Brasil de “país de maricas” e disse que sua
vida é “uma desgraça”.
O
capitão tem motivos para exibir descontrole. Na semana passada, o Ministério
Público do Rio denunciou o senador Flávio Bolsonaro por peculato, lavagem de
dinheiro e organização criminosa. A confissão de uma funcionária-fantasma
agravou os problemas do Zero Um com a Justiça.
A
derrota de Donald Trump também aumentou as aflições de Bolsonaro. Apesar de
endossar a falsa versão de fraude, ele sabe que ficará mais isolado a partir de
janeiro. A derrocada do ídolo abalou o sonho do segundo mandato. Em meio ao
destampatório, ele admitiu o medo de repetir Mauricio Macri, que não conseguiu
se reeleger na Argentina.
O
presidente saboreou um aumento de popularidade na pandemia, mas terá meses
difíceis pela frente. O governo ainda não sabe o que oferecer a milhões de
famílias que deixarão de receber o auxílio emergencial. O ministro Paulo
Guedes, que parece tão perdido quanto o chefe, agora se diz “bastante
frustrado” e fala em risco de hiperinflação.
Como se não bastassem todos esses problemas, Bolsonaro adotou uma estratégia camicase nas eleições municipais. Não há pólvora nem corrente de WhatsApp que evitem o fiasco da maioria dos candidatos que ele escolheu apoiar. A depender do resultado das urnas, o capitão precisará de muita saliva para se explicar na segunda-feira.
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