A
Sucupira de Odorico Paraguaçu ressurgiu na Brasília de Jair Bolsonaro. Ontem o
presidente promoveu uma solenidade para exibir o terno que vestiu na posse. A
cerimônia reuniu seis ministros e foi transmitida ao vivo na TV estatal.
“Um
dia memorável, né? Um dia memorável para a nação”, discursou a primeira-dama
Michelle. Ela festejava a inauguração de dois manequins com os trajes usados no
Rolls-Royce presidencial.
“Fiquei muito feliz de presentear essa pessoa maravilhosa que é a Michelle”, derramou-se a estilista Marie Lafayette, responsável pelo vestido da primeira-dama. Convidada a falar, ela disse ter trabalhado “com muito amor” e descreveu a cliente como uma “pessoa iluminada”. Com uma propaganda dessa, seria difícil ouvir algo diferente.
Animado,
Bolsonaro fez questão de informar que também não pagou pelo terno da posse. “De
graça até injeção marciana, né?”, brincou. Em seguida, o capitão forneceu o
endereço do alfaiate. “Quanto mais terno fizer lá, mais eu ganho aqui”,
justificou.
No
fim da cerimônia, o costureiro Santino Gonçalves engrenou um discurso de
pastor. Entre glórias e louvores, ele descreveu sua presença no Planalto como o
cumprimento de uma profecia. “Este é o presidente que Deus escolheu”,
sentenciou.
Horas
antes de Michelle brincar de Maria Antonieta, o governador João Doria
apresentou um cronograma para imunizar a população de São Paulo. O tucano
avançou o sinal ao prometer uma vacina em fase de testes, mas deu um xeque em
Bolsonaro. Se a Anvisa não liberar a CoronaVac até 25 de janeiro, o capitão
será responsabilizado por cada morte a partir do dia 26.
Na peça de Dias Gomes, Sucupira era governada por um político populista, irresponsável e falastrão. Seu sonho era coroar o mandato com a inauguração de um cemitério. Bolsonaro reúne as três qualidades de Odorico, mas já declarou que não é coveiro. Ontem, no “dia memorável” da primeira-dama, o Brasil ultrapassou a marca de 177 mil vítimas da Covid.
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