Risco
de aparelhamento de Saúde e Anvisa é o Brasil e você, brasileiro, ficarem sem
vacina
Depois
de duas semanas de férias, a coluna volta com uma dúvida: os generais Mourão, Fernando, Heleno, Braga Netto, Ramos e Pujol vão permitir
que o presidente Jair Bolsonaro aparelhe a Anvisa e deixe o
Brasil ser pego de calças curtas e seringas vazias? E que você, brasileiro, não
seja vacinado?
Mesmo
bolsonaristas renitentes, que negam a realidade e se recusam a ver o que está
acontecendo, começam a se preocupar. Bolsonaro chegaria a tanto? Como ele
ultrapassa todos os limites, o tempo todo, a resposta é preocupante: sim, e ele
já se mostrou capaz de priorizar suas guerrinhas políticas em detrimento da
vacina.
Uma coisa é dar de ombros para parceiros internacionais, Amazônia, Cultura, Meio Ambiente, Educação e até mesmo, por incrível que pareça, Saúde. Isso tudo pode parecer “abstrato” e “distante”, acionando o “não tenho nada a ver com isso”. Mas quando se trata de vacinas, é algo objetivo, direto, nem bolsonarista resiste.
É
como se Bolsonaro tivesse um prazer mórbido de confrontar, chocar, sempre
testando limites. Como tudo na vida tem limite, ele precisa desesperadamente
manter o apoio do Centrão e
tirar do deputado Rodrigo Maia (DEM) o controle da Câmara
e, particularmente, das dezenas de pedidos de abertura de impeachment. De tanto
esticar a corda, um dia ela arrebenta. E a vacina contra a covid-19 pode ser o “turning point”.
Até
por isso as instituições precisam estar devidamente sólidas, confiáveis, e foi
um erro imperdoável do Supremo aventurar-se pelo terreno pantanoso da reeleição
dos presidentes da Câmara e do Senado. Que Davi Alcolumbre se
prestasse a esse papel, tudo bem, está do tamanho dele. Mas Rodrigo Maia lavar
as mãos? E ministros do Supremo taparem os olhos (e o nariz) para jogar no lixo
o texto constitucional?
O
Supremo tem sido fundamental na defesa da democracia e contra golpistas de
Executivo, Legislativo, empresariado, blogosfera. Foi graças à firmeza pessoal
e jurídica de um Celso de Mello, um Alexandre de Moraes, que
essa gente se recolheu. Ninguém mais vê manifestações contra Congresso e STF, muito menos o
presidente atiçando a turba com o Quartel General do Exército ao fundo ou
sobrevoando essas aglomerações com o ministro da Defesa, de helicóptero.
Logo,
os 11 ministros do Supremo têm que se preservar, de manter a credibilidade da
instituição garantidora, por excelência, do Estado Democrático de Direito. Não
podem repetir Bolsonaro e priorizar seus próprios achismos e fingir que a
Constituição (secundada pelos regimentos internos) não diz o que diz: que é
vedada a reeleição para as presidências do Congresso na mesma Legislatura. É
grosseiro, não faz jus à inteligência, à responsabilidade e ao compromisso do
nosso Supremo com o nosso País.
Sim,
Rodrigo Maia cumpre um papel importante, em alguns momentos decisivo, ao botar
o pé na porta e estabelecer limites às insanidades e arroubos do presidente,
mas não é recorrendo a expedientes também golpistas para lhe dar um novo
mandato ilegal que Judiciário e Legislativo terão legitimidade para manter a
democracia e o equilíbrio institucional.
O Brasil precisa de Supremo e Congresso fortes, para exigir democracia e defender princípios, avanços, leis e, agora, o acesso da população às vacinas, com planejamento e campanha impecáveis de imunização. Mas, se as instituições aderem a jeitinhos mequetrefes, acabam se embolando com Bolsonaro. Não sobra nada. Ainda mais se as Forças Armadas fecharem bocas, olhos e ouvidos e se tornarem coniventes com ameaças à independência da Anvisa e à segurança dos milhões de brasileiros. Calma, gente! Há que manter a compostura.
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