Por
Gabriel Vasconcelos e Hugo Passarelli | Valor Econômico
RIO
e SÃO PAULO - O mercado de trabalho seguiu o roteiro já carimbado da pandemia
no mês de outubro. Com mais pessoas voltando a procurar emprego, a taxa de
desocupação foi de 14,3% de agosto a outubro, recorde para o período e maior do
que o trimestre até julho (13,8%) e também ante um ano antes (11,6%). A taxa
ficou abaixo da expectativa dos analistas - a mediana das estimativas do Valor
Data era de 14,5%.
Apesar
do índice elevado, técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) observaram melhora em algumas aberturas da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad) Contínua. De agosto a outubro, a população na força de
trabalho - aqueles com 14 anos ou mais que trabalhavam ou queriam trabalhar -
chegou a 98,4 milhões, alta de 3,4% ante o trimestre até julho.
De
modo inverso, o contingente fora da força de trabalho caiu a 77,2 milhões, um
recuo de 2,2% na mesma comparação. Foi a primeira queda para um trimestre móvel
neste ano, após altas de 7,9% e de 11,3% do indicador. De todo modo, o número
de pessoas fora da força de trabalho nos três meses até outubro ainda está 19%
acima do registrado em igual período de 2019.
“Não dá para cravar nada porque não se sabe o que vai acontecer em termos de saúde pública. Se não acontecer nada [piora da pandemia], a gente pode entender que há uma recuperação clara, com as pessoas voltando a procurar trabalho e empregos sendo criados. Ainda vai ter mais gente ofertando trabalho que empregadores querendo contratar”, disse Maria Lúcia Vieira, coordenadora do levantamento.
A
retomada gradual do mercado de trabalho também puxou para cima a taxa de
informalidade, para 38,8% no trimestre móvel terminado em outubro, acima do
índice de 37,4% do trimestre até julho - mas ainda longe do pico da série, de
41,3%. Para o diretor adjunto de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, o avanço da
informalidade representa um caminho natural de acomodação após o choque da
pandemia. Após muitos perderem o emprego ou deixarem de procurar vagas, a volta
ao mercado ocorre pela via da informalidade.
Na
análise mês a mês, menos utilizada pelo IBGE mas acompanhada pelo mercado
financeiro, a taxa de desocupação mostrou leve desaceleração, de 14,6% no
trimestre até setembro para 14,3% até outubro. “É preciso destacar que essa
melhora [de setembro a outubro] se deu com a força de trabalho subindo”, afirma
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
De
setembro a outubro, Sanchez destaca que o número de pessoas desocupadas ficou
constante em 14,1 milhões, ao passo que força de trabalho avançou de 96,6
milhões para 98,4 milhões. “A força de trabalho subindo, sem reação da
desocupação, significa que a alta foi totalmente impulsionada por pessoas
ocupadas”, completa.
A
visão é semelhante à de Vitor Vidal, economista da XP Investimentos. “Está
havendo alguma criação de vagas, mas existe ainda um exército de pessoas que
está fora do mercado de trabalho”, disse Vidal, para quem o descasamento entre
a criação de vagas e a volta da força de trabalho tende a aumentar. Para 2021,
a expectativa de Vidal é que a desocupação siga em alta e alcance um pico em
torno de 16% entre o primeiro e segundo trimestres.
De
acordo com o economista da XP, o movimento vai ser puxado pelo fim do auxílio
emergencial, que colaborou para que as pessoas não voltassem à força de trabalho
e pela esperada volta à normalidade na circulação de pessoas, à medida que os
planos de vacinação contra a covid-19 caminhem. "O grande empregador da
economia é o setor de serviços, justamente o mais prejudicado pela pandemia.
Esse setor depende que as pessoas voltem a consumir", acrescenta.
Em
termos dessazonalizados, a taxa de desemprego mostrou leve baixa de 0,1 ponto
percentual, para 14,6%, de setembro a outubro, afirma Alberto Ramos, diretor de
pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs. Ainda assim, Ramos
destaca que a desocupação teria aumentado significativamente não fosse a queda
de 6,1 pontos na participação da força de trabalho, ante um ano antes. “Além
disso, 32,5 milhões de indivíduos são subutilizados [18,5% da população em
idade ativa e 33% da força de trabalho economicamente ativa] e 5,8 milhões são
desalentados", diz Ramos.
Já no cálculo de André Muller, economista-chefe da AZ Quest, o desemprego ficou estável em 14,7%, em termos dessazonalizados, também de setembro a outubro. “Apesar de o resultado ter sido positivo, o nível do desemprego é artificialmente baixo em função das pessoas que não estão procurando emprego. Se recuperássemos o número de pessoas procurando emprego do pré-crise, a taxa de desemprego estaria perto de 20%”, diz Muller.
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