Ele
passa o tempo trancado, jogando golfe, anistiando comparsas e delirando
Faltam
três semanas para o dia em que Joe Biden assumirá a Presidência dos Estados
Unidos. Com a pandemia e Donald Trump, não se sabe direito como as coisas
funcionarão. Não se sabe sequer se ele irá à cerimônia.
Numa
época tomada pela Covid-19, pelas vacinas e por Jair Bolsonaro, junta-se um
espetáculo histórico: o comportamento de Trump nos últimos dias de seu governo.
Recusando-se a aceitar o resultado das urnas, o atual presidente entrou na moldura de desespero e desequilíbrio de Richard Nixon nos dias que antecederam sua renúncia, em agosto de 1974. Ele estava bebendo demais, brigava com a mulher e chamou o secretário de Estado para rezar. O chefe de seu gabinete temeu que ele se matasse. Estava entendido que Nixon destrambelhara. Temeu-se que, num surto, ele resolvesse usar armas nucleares contra algum inimigo. Por isso, se ele tentasse mexer nas bombas, a ordem precisaria ser confirmada pelo secretário da Defesa. Ela nunca foi dada. Esses fatos, contudo, começaram a sair dos bastidores aos poucos. Para consumo geral, ficou a imagem do presidente deixando a Casa Branca com um grande sorriso e os braços erguidos.
Trump
está oferecendo um espetáculo público. Depois de contestar o resultado das
urnas, passa o tempo trancado, jogando golfe, anistiando comparsas e delirando.
Nesse ambiente, surgiu até a ideia de colocar a maior democracia do mundo sob
lei marcial. Como não poderia deixar de ser, aporrinhou a mulher porque teria
aparecido pouco nas revistas de moda. Desde novembro, estava claro que Trump
destrambelhara num patamar inédito. Acompanhá-lo até o dia 20 de janeiro,
seguindo cada detalhe de sua partida, será um grande espetáculo. Algo como um
seriado de televisão.
Os
Estados Unidos ralaram em duas décadas com dois dos três piores presidentes de
sua história: Trump e George W. Bush. O terceiro foi James Buchanan
(1857-1861), que deixou para Abraham Lincoln a encrenca que resultaria na
Guerra Civil.
Dos
três, o único que se conduziu como um desequilibrado foi Trump. E daí vem a boa
notícia: as instituições americanas sobreviveram a um tatarana na Casa Branca.
Prova disso está no fato de que, ao contrário do que supunham seus adoradores,
a judicialização do resultado eleitoral jamais dependeu de uma decisão dos nove
juízes da Corte Suprema. Seus pleitos atolaram antes.
Noves
fora Buchanan, a competição pelo título de pior presidente fica entre Bush II e
Trump. Essa é uma boa discussão. Como pessoa física, Trump ganha com larga
vantagem. Como a blindagem das instituições impediu muitos de seus estragos, é
possível que Bush II, com sua guerra no Iraque e a recessão do fim de mandato,
tenha causado mais danos à nação. Registre-se que Bush, como seu pai, é um
ex-presidente exemplar, coisa que não há a menor possibilidade de acontecer com
Trump. (Está aí a procuradora-geral do Estado de Nova York, encarregada de
olhar para as finanças do doutor.)
Como lembrou o ministro Gilmar Mendes, valendo-se de um provérbio português, “ninguém se livra de pedrada de doido nem de coice de burro”. Nem os Estados Unidos. Dificilmente o mundo terá oportunidade de acompanhar um espetáculo como o que vem por aí.
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