Ele
é uma ameaça à vida alheia
Se for o que resta para mostrar a que ponto chegou Bolsonaro, compare-se o seu comportamento com relação à vacinação em massa contra o vírus com o comportamento dos governantes mais autoritários do mundo, todos, como ele, de extrema-direita.
O
ditador da República da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, anunciou que não se
vacinará porque a Covid-19 já o pegou faz algum tempo – como se não pudesse
pegá-lo outra vez. Mas a imunização no seu país começou uma semana antes do previsto.
Até
abril serão vacinadas 1,2 milhão de pessoas. Numa segunda etapa, mais 5,5
milhões. Na Hungria do primeiro-ministro Viktor Orbán, um dos poucos chefes de
Estado a comparecer à posse de Bolsonaro, a vacinação começou no último sábado.
A
Polônia tem um governo nacionalista conservador admirado pelo presidente
brasileiro. Pois bem: ali, ontem, os dois líderes dos partidos rivais
Plataforma Cívica (liberal) e Lei e Justiça (conservador) foram filmados
vacinando-se juntos.
Ontem também, os países da Comunidade Econômica Europeia compraram mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer. Em colapso desde a explosão do seu porto em Beirute, o Líbano comprou à Pfizer duas milhões de doses de vacina.
Aqui,
onde nas últimas 24 horas o vírus matou 1.075 pessoas e infectou mais de 57
mil, a Pfizer indicou em nota que no momento não irá pedir autorização de uso
emergencial do seu imunizante porque as exigências do governo demandam tempo.
Como
uma das muitas vacinas que já foram aprovadas em outros países e que estão
sendo aplicadas por toda parte não pode estar rapidamente disponível para os
brasileiros? É a pergunta que Bolsonaro e seus cúmplices se recusam a
responder.
Na
melhor das hipóteses, segundo o Ministério da Saúde, a vacinação contra o vírus
está prevista para começar em 20 de janeiro, e na pior até o final da primeira
quinzena de fevereiro. Quantas vezes você não leu previsões furadas?
Por
outra parte, por que o espanto com a incompetência do governo Bolsonaro em dar
início à vacinação? Quando foi que o governo dele revelou-se competente para
tentar resolver um só grande problema do país nos últimos 2 anos?
O
prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte, reeleito com uma votação recorde,
estoca há meses seringas de sobra para vacinar os habitantes de sua cidade e de
cidades próximas. O que impediu o governo federal de fazer a mesma coisa?
Fracassou
o pregão eletrônico realizado ontem pelo Ministério da Saúde para a compra de
seringas e agulhas. De um total de 331 milhões unidades previstas para serem
adquiridas, o ministério conseguiu fornecedor para apenas 7,9 milhões. Uma
titica.
Não
se brinca impunemente com vidas alheias, mas Bolsonaro insiste em brincar.
Gosta de viver em perigo. Por que não brinca com a própria vida, quando nada
para relembrar os antigos e bons tempos de paraquedista do Exército?
Só
a vacinação em massa já, e bem-sucedida, salvará o sonho de Bolsonaro de se
reeleger daqui a dois anos, e mesmo assim não será tão fácil como parecia. O
contrário disso será com toda certeza a abertura de um processo de impeachment.
Crime
de responsabilidade é razão para a abertura de um processo de impeachment do
presidente. Falhar gravemente em garantir a vida das pessoas é o maior crime de
responsabilidade que um presidente pode cometer. E daí?
Daí que é por isso que Bolsonaro precisa tanto eleger Arthur Lira (PP-AL) presidente da Câmara dos Deputados. A abertura de um processo de impeachment depende exclusivamente do presidente da Câmara. Por lá, mais de 50 pedidos repousam numa gaveta.
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