O
capitão, que foi eleito prometendo varrer a corrupção de Brasília, montou ele
próprio um esquema para se defender e proteger as falcatruas de seus filhos e
aliados
Já se falou quase tudo do
governo de Jair Bolsonaro. Da sua índole intolerante e antidemocrática, da sua
beligerância permanente, das baixarias que produz em escala industrial, dos
seus inúmeros crimes de responsabilidade, da sua fraqueza moral, dos atentados
que comete contra a vida humana no tratamento que dispensa à pandemia do coronavírus.
Agora, pode-se também afirmar que esse governo é corrupto. O capitão, que foi
eleito prometendo varrer a corrupção de Brasília, montou ele próprio um esquema
para se defender e proteger as falcatruas de seus filhos e aliados.
São
várias as
evidências desse esquema ao redor do presidente. Bolsonaro controla tanto a
Procuradoria-Geral da República quanto a Polícia Federal com absoluto rigor.
Apesar de manter a aparência de independência, Augusto Aras e Rolando Alexandre
de Souza fazem o que for preciso para não desagradar ao presidente. Outras
instituições do Estado, além da PF, são usadas sem constrangimento. Tanto o
Ministério da Justiça quanto a Advocacia- Geral da União foram
instrumentalizadas por Bolsonaro para defender ele mesmo, os seus três zeros e
a sua turma.
Com o
centrão no
comando da pauta do governo, o que teremos até o desfecho deste lamentável
mandato será apenas mais um governo corrupto. Sabe-se desde já que na Câmara
Bolsonaro vai comer pelas mãos de Arthur Lira (corrupção ativa, lavagem de
dinheiro, violência doméstica) e seus parceiros. Lira deve ganhar a presidência
da Casa, mas mesmo que perca, será o guia do capitão naquele plenário. No
Senado, com Rodrigo Pacheco ocorrerá o mesmo. Como noticiou o Estadão na
quinta-feira, o deputado já anunciou que, sendo eleito, vai torpedear CPIs
contra o Planalto. Duas já estão na sua mira, a das Fake News e a da Saúde. E o
senador avisou que não gosta de CPIs. Oras.
O governo vai voar em céu de brigadeiro e só sentirá turbulência se não soltar lastro toda vez que for exigido pelos aliados gulosos. Vai precisar se livrar de muito peso, é bom que se diga. Já sinalizou inclusive que pode criar novos ministérios para abrigar a turminha. Bolsonaro vai fazer concessões, nenhuma dúvida, mas não terá sequer uma agenda que consiga pelo menos balancear possíveis estragos que vierem a ser feitos por larápios. Como se viu na demissão do presidente da Eletrobrás, nem a agenda liberal sobreviveu a dois anos de governo. Fora o escancaramento na liberação de armas e munições, a pauta conservadora também não anda, porque a turma não é tão besta assim. O que vai sobrar é o velho toma-lá-dá-cá.
A
Transparência Internacional
divulgou esta semana o ranking atualizado de percepção de corrupção em que
avalia 180 países. ªO Brasil ficou na 94ª posição, a pior de toda a América
Latina. No ano passado, bateu seu recorde histórico. Este ano, melhorou três
pontos em cem, mas continua em patamar mais baixo do que todos os anos
anteriores. A explicação é simples. Segundo a ONG, a principal causa é a
interferência política de Bolsonaro nos instrumentos de combate à corrupção,
como nas já citadas AGU, PGR e PF. Também por influência do capitão foram
fritadas as operações Lava Jato e Greenfield.
Mas, e
daí? Qual
a surpresa? Antes mesmo de ser eleito presidente, Bolsonaro já se valia dos
cofres públicos para enriquecer. Ao ser flagrado desviando verba do auxílio
moradia da Câmara, disse ao jornal “Folha de S. Paulo” que usava o dinheiro
público “para comer gente”. Um corrupto de largo espectro, inclusive moral.
PF
instrumental
Você,
que temia ver a Polícia Federal ser instrumentalizada por Bolsonaro,
esqueça. Já era,
já foi. Ou alguém acha mesmo que com todas as ferramentas
de que dispõe, inclusive com autorização para quebrar sigilos bancários, o
órgão não conseguiria encontrar elementos para indiciar as pessoas que
participaram e financiaram os atos antidemocráticos do ano passado? O relatório
da delegada Denisse Dias Ribeiro enviado ao ministro Alexandre de Moraes
deveria ser devolvido com advertência formal.
Michel
Temer dois
Jair
Bolsonaro adotou o método Michel Temer de governar. Quem está do seu lado,
ganha cargo. Quem está contra, ou ameaça ficar contra, é cortado. É isso o que
vem ocorrendo com cargos públicos federais ocupados por aliados de
parlamentares que vão votar em Baleia Rossi para a presidência da Câmara. Estão
sendo demitidos. Mas para por aí a semelhança entre os dois presidentes. Temer
era tolerante e democrático,
além de muito bem educado. Bolsonaro é aquilo que você sabe.
Dona
Azenate
Falcatruas
em compras não é novidade nas Forças Armadas brasileiras. Já no longínquo ano
de 1991, O GLOBO noticiava que o Exército havia comprado fardas e roupa de cama
e banho com preços bem acima dos praticados pelo mercado. A reportagem de
Ricardo Boechat e Rodrigo França Taves rendeu aos dois o prêmio Esso, maior
honraria jornalística daquela época. E agora, aparece a dona Azenate Barreto
Abreu como intermediária de compras
superfaturadas de leite condensado para o Ministério da Defesa.
Ela nega, diz que vendeu apenas duas caixas. Segundo reportagem do Jornal de
Brasília, Azenate é dona de três salas no subsolo de um prédio comercial no
setor Sudoeste do Distrito Federal de onde saíram R$ 45 milhões em compras
governamentais. Governos corruptos, como foi o de Fernando Collor em 1991,
podem gerar um certo enfraquecimento moral coletivo.
Neto de peixe
O
ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, deve apoiar o candidato de Bolsonaro na
disputa para a presidência da Câmara. Vai de Arthur Lira, contra a articulação
encaminhada pelo seu partido. Ele age com aquela
cara de quem quer cargo. Aos que lhe cobram por dar aval ao
antidemocrático Bolsonaro, Acmzinho diz que se o seu avô deu apoio a generais,
por que ele não poderia se alinhar com um capitão.
Joga
fora no lixo
A
agressão de Bolsonaro aos jornalistas na quarta passada, quando ele mandou
todos para a pqp, mostra o tamanho da lixeira em que o presidente do Brasil vai
acabar sendo jogado. Alegando falsamente que a imprensa o acusou de comprar R$
15 milhões em leite condensado, disse que as latas serviriam “para enfiar no
rabo de jornalista”. Sabe
qual o problema do capitão? Ele lê tudo pela ótica odienta
da sua timeline. Os jornais nunca atribuíram ao presidente a compra do leite,
embora tenham relatado que havia indícios de superfaturamento. Uma vez que não
lê jornais e não assiste a telejornais, o que ele acompanhou foi a repercussão
da história nas redes sociais. E então explodiu no mar de esgoto que se viu.
Vergonha
Flamengo
A imagem dos jogadores do Flamengo rindo como se fossem velhos amigos de Bolsonaro deve-se colocar na conta do presidente do clube Rodolfo Landim. O vereador gazeteiro Marcos Braz também tem culpa. Ele estava naquela tarde de sexta em Brasília puxando o saco do presidente enquanto os seus colegas trabalhavam em favor dos cidadãos do Rio. Foram Landim e Braz que contrataram Aleksander Santos para ser o diretor de relações institucionais do clube. E este, um ex-guardião de Crivella, fez a ponte do Flamengo até o capitão.
Faltam
cubanos
Não
se pode negar que os 18 mil médicos cubanos do programa “Mais médicos” do
governo Dilma seriam muito úteis hoje. Eles trabalharam em mais de quatro mil
municípios e sua área de abrangência cobria 63 milhões de brasileiros. Que
reforço espetacular representariam na linha de frente do combate ao coronavírus.
Boa
iniciativa
Uma
surpresa na Delfim Moreira. A construtora Gafisa cedeu o espaço em que vai
levantar um prédio para que o artista plástico Raul Mourão exponha duas de
suas megaobras interativas.
Vale visitar. Fica entre a João Lira e a José Linhares.
Correção
Na semana passada, me referi a um bate papo online frustrado que se daria entre Gean Loureiro, prefeito de Florianópolis, e Júlio Garcia, presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Disse que o talk não ocorreu em razão da prisão de Garcia horas antes do encontro. Errei. Júlio Garcia foi preso, sim. Nenhum problema aí. O erro foi ter identificado o prefeito Loureiro como governador do estado.
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