Há fatalidades e há erros cometidos. Ninguém
poderia prever o inesperado ataque do coronavírus. Mas era possível não
mergulhar no negacionismo, não apostar em falsas soluções, mobilizar a
sociedade para a prevenção, apostar na convergência, preparar rápida ação de
imunização, terreno em que o Brasil tem larga experiência. Outra enorme perda
de tempo e oportunidades foi a falsa polêmica entre vidas e empregos, saúde versus
economia. As duas crises são irmãs gêmeas, faces da mesma moeda. Só haverá
retomada econômica com a ampla vacinação da população.
Os desafios para 2021 são enormes: comprar tardiamente insumos farmacêuticos e vacinas num mercado mundial distorcido; vacinar a maioria da população, o que parece que só será possível até o final do ano; oferecer auxílio emergencial aos milhões de desempregados, desalentados e subempregados, e estímulo econômico a milhares de empresas que se encontram à beira do abismo, num quadro de total penúria fiscal e risco de perda do controle sobre a estabilidade econômica.
Se não bastasse isto, a dinâmica política continua elevando
a temperatura ao máximo. Cogitações de impeachment começam a surgir, ainda que
não haja maioria parlamentar, povo na rua e consenso suficiente sobre este
caminho. O “escândalo do leite condensado” levou o Presidente a abandonar toda
e qualquer liturgia do cargo e agredir a imprensa e as oposições. Os choques entre o governo federal e estados abalam
a solidariedade federativa. Enfim, doses adicionais de agonia num quadro já
dramático por suas determinantes objetivas. Tudo se assemelha, às vezes, à uma
combinação macabra entre filme de terror, teatro do absurdo e o seriado dos
três patetas.
A eleição de 2022 é discussão futurista, distante e
precipitada. A agonia palpável da semana é a sucessão no Senado Federal e na Câmara
dos Deputados. É fundamental que sejam reafirmados o protagonismo, a autonomia
e a independência do Congresso Nacional, fortalecendo seu papel de freio e
contrapeso na defesa da democracia e das instituições republicanas.
No Senado Federal, parece que não teremos surpresa,
será eleito o senador mineiro Rodrigo Pacheco (DEM), de vasta cultura jurídica,
comprometido com a Constituição e as Leis, pessoa serena e equilibrada, que
certamente saberá coordenar os debates em busca de soluções para nossa aflitiva
situação.
Na Câmara dos Deputados teremos, na segunda-feira, emoções
fortes. O embate entre Arthur Lira (PP) e Bolsonaro, de um lado, e Baleia Rossi(MDB)
e Rodrigo Maia, de outro, terá certamente resultado apertado, diante de um
quadro partidário pulverizado, fragmentado, inconsistente, onde traições e “indisciplinas”
se multiplicam.
Os novos presidentes da Câmara e do Senado serão
atores chaves na construção do roteiro de saídas para um país mergulhado em
forte turbilhão econômico, social, sanitário e político.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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