2021,
o ano que não foi
Nada
sairá caro para Jair Bolsonaro se ele conseguir realizar daqui a um ano seu
intento de se reeleger. É isso que o move desde que foi admitido pela primeira
vez no imóvel mais cobiçado do país, o monumental e nada acolhedor Palácio da
Alvorada, e passou a despachar no terceiro andar do Palácio do Planalto.
Liberar
mais de 4 bilhões de reais para que deputados federais e senadores votem em
seus candidatos às presidências da Câmara e do Senado? Bobagem! Sai na urina. E
não sai do bolso dele, sairá indiretamente do nosso que pagamos impostos.
Recriar ministérios que extinguiu para acomodar nomes do Centrão?
Quem
ficará chocado com isso é porque não votou nele – ou votou, arrependeu-se e não
votará mais, a não ser que a esquerda tenha chance de voltar ao poder.
Bolsonaro quer preservar seu capital inicial – os 30% dos brasileiros que
incondicionalmente o apoiam. Se conseguir, uma das vagas do segundo turno será
sua.
De Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), os mais cotados para comandar a Câmara e o Senado a partir da próxima segunda-feira, Bolsonaro espera que lhe entreguem algumas coisas prometidas: barrar pedidos de impeachment, facilitar a aprovação de reformas da economia e driblar pautas-bombas.
Baleia
Rossi (MDB-SP) e Simone Tebet (MDB-MS), adversários de Lira e de Pacheco, não
negariam tais favores a Bolsonaro. Rossi, como líder do seu partido na Câmara,
votou tão alinhado com o governo como Lira. Tebet, um pouco menos. Mas, no caso
de Rossi, ele tem o apoio da oposição e de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Para
Bolsonaro, Maia é o capeta. Como presidente da Câmara, comportou-se com
excessiva independência para seu gosto. E ele o vê como um aliado do governador
João Doria (PSDB-SP) que aspira a ser candidato a presidente. Derrotar Maia não
basta. Bolsonaro deseja derrotá-lo de uma maneira humilhante.
É
por isso que mandou abrir os cofres públicos e gastar muito além do que fosse
necessário. Deu um cheque em branco ao general Luiz Eduardo Ramos, ministro da
Secretaria do Governo, para que brincasse de articulador político do governo. O
general está feliz e todo prosa como um pavão por merecer a confiança do chefe.
2020
foi mais um desses anos que não começou nem acabou nas datas previstas. Aqui,
pelo menos, começou em março com a primeira vítima fatal do Coronavírus, e se
estenderá até que a pandemia seja domada com a vacinação em massa. Como falta
vacina no mundo, será um dos anos mais longos da história.
Para
os políticos e os donos de negócios que dependem deles e do próximo inquilino
do Alvorada, 2021 é um ano que já acabou. Todos estão em 2022 e fazem seus
cálculos. Como Bolsonaro chegará até lá? Quais as chances de ele vencer ou
perder? Quem irá enfrentá-lo? Qual será a taxa de renovação do Congresso?
No país em que pouco ou nada se leva a sério…
Para
evitar traições
Quem
se lembra das eleições de 2019 para as presidências da Câmara dos Deputados e
do Senado? A da Câmara foi tranquila. Era pedra cantada a vitória de Rodrigo
Maia (DEM-RJ).
Na
eleição do Senado houve de tudo. Davi Alcolumbre (DEM-AP) sentou-se na cadeira
de presidente e conduziu sua própria eleição. São 81 senadores. Foram
depositados nas urnas 82 votos.
O
voto é secreto tanto no Senado como na Câmara. Naquele ano, alguns senadores,
entre eles Flávio Bolsonaro, já investigado pela rachadinha, disse publicamente
em quem votaria – Alcolumbre.
É
o que se prepara para fazer este ano na Câmara um grupo expressivo de deputados
que votarão em Arthur Lira (PP-AL), o candidato de Bolsonaro e do Centrão.
Poderão
ir além. Cogitam fotografar o próprio voto para provar mais tarde que votaram
de fato em Lira. Estão sendo incentivados a isso pelo governo para desmoralizar
de vez o voto secreto.
Mas não só por isso. O governo teme traições. E não quer pagar o que prometeu a quem o traiu. De volta aos tempos da Velha República onde as eleições eram fraudadas.
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