sábado, 30 de janeiro de 2021

Ricardo Noblat - 2020, o ano que não acabou. 2022, o ano que já começou

- Blog do Noblat / Veja

2021, o ano que não foi

Nada sairá caro para Jair Bolsonaro se ele conseguir realizar daqui a um ano seu intento de se reeleger. É isso que o move desde que foi admitido pela primeira vez no imóvel mais cobiçado do país, o monumental e nada acolhedor Palácio da Alvorada, e passou a despachar no terceiro andar do Palácio do Planalto.

Liberar mais de 4 bilhões de reais para que deputados federais e senadores votem em seus candidatos às presidências da Câmara e do Senado? Bobagem! Sai na urina. E não sai do bolso dele, sairá indiretamente do nosso que pagamos impostos. Recriar ministérios que extinguiu para acomodar nomes do Centrão?

Quem ficará chocado com isso é porque não votou nele – ou votou, arrependeu-se e não votará mais, a não ser que a esquerda tenha chance de voltar ao poder. Bolsonaro quer preservar seu capital inicial – os 30% dos brasileiros que incondicionalmente o apoiam. Se conseguir, uma das vagas do segundo turno será sua.

De Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), os mais cotados para comandar a Câmara e o Senado a partir da próxima segunda-feira, Bolsonaro espera que lhe entreguem algumas coisas prometidas: barrar pedidos de impeachment, facilitar a aprovação de reformas da economia e driblar pautas-bombas.

Baleia Rossi (MDB-SP) e Simone Tebet (MDB-MS), adversários de Lira e de Pacheco, não negariam tais favores a Bolsonaro. Rossi, como líder do seu partido na Câmara, votou tão alinhado com o governo como Lira. Tebet, um pouco menos. Mas, no caso de Rossi, ele tem o apoio da oposição e de Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Para Bolsonaro, Maia é o capeta. Como presidente da Câmara, comportou-se com excessiva independência para seu gosto. E ele o vê como um aliado do governador João Doria (PSDB-SP) que aspira a ser candidato a presidente. Derrotar Maia não basta. Bolsonaro deseja derrotá-lo de uma maneira humilhante.

É por isso que mandou abrir os cofres públicos e gastar muito além do que fosse necessário. Deu um cheque em branco ao general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria do Governo, para que brincasse de articulador político do governo. O general está feliz e todo prosa como um pavão por merecer a confiança do chefe.

2020 foi mais um desses anos que não começou nem acabou nas datas previstas. Aqui, pelo menos, começou em março com a primeira vítima fatal do Coronavírus, e se estenderá até que a pandemia seja domada com a vacinação em massa. Como falta vacina no mundo, será um dos anos mais longos da história.

Para os políticos e os donos de negócios que dependem deles e do próximo inquilino do Alvorada, 2021 é um ano que já acabou. Todos estão em 2022 e fazem seus cálculos. Como Bolsonaro chegará até lá? Quais as chances de ele vencer ou perder? Quem irá enfrentá-lo? Qual será a taxa de renovação do Congresso?

No país em que pouco ou nada se leva a sério…

Para evitar traições

Quem se lembra das eleições de 2019 para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado? A da Câmara foi tranquila. Era pedra cantada a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Na eleição do Senado houve de tudo. Davi Alcolumbre (DEM-AP) sentou-se na cadeira de presidente e conduziu sua própria eleição. São 81 senadores. Foram depositados nas urnas 82 votos.

O voto é secreto tanto no Senado como na Câmara. Naquele ano, alguns senadores, entre eles Flávio Bolsonaro, já investigado pela rachadinha, disse publicamente em quem votaria – Alcolumbre.

É o que se prepara para fazer este ano na Câmara um grupo expressivo de deputados que votarão em Arthur Lira (PP-AL), o candidato de Bolsonaro e do Centrão.

Poderão ir além. Cogitam fotografar o próprio voto para provar mais tarde que votaram de fato em Lira. Estão sendo incentivados a isso pelo governo para desmoralizar de vez o voto secreto.

Mas não só por isso. O governo teme traições. E não quer pagar o que prometeu a quem o traiu. De volta aos tempos da Velha República onde as eleições eram fraudadas.

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