1. Acreditar em utopias.
Os progressistas precisam recuperar sonhos utópicos, aceitando a marcha da história: automação, inteligência artificial, limites ecológicos, o valor da natureza, o esgotamento do Estado, a globalização, a mudança no perfil etário da população. Não devem mais prometer a ilusória e autoritária igualdade de renda e consumo. De fato, devem buscar que, graças a um piso social, todos, mesmo aqueles com baixa renda, tenham acesso a todos os bens e serviços essenciais; e que, graças a um teto ecológico, ninguém, mesmo aqueles com renda alta, possa consumir bens e serviços que desequilibrem o meio ambiente. Os progressistas também devem assegurar igualdade na qualidade dos serviços de saúde e educação, permitindo que cada pessoa use seu mérito para ascender socialmente.
2. Modificar
o entendimento da realidade social e econômica.
É preciso livrar-se de falsas narrativas,
negacionismos e preconceitos que impedem entender a realidade em sua marcha ao
futuro, e perceber que o Brasil é uma sociedade com apartação. E o primeiro
compromisso moral é com o combate à exclusão social. Diferenciar direitos de
privilégios, mesmo quando estes beneficiam assalariados. Nas disputas entre
servidores e o público, é preciso ficar do lado deste. Entender que, na Era do
Conhecimento, o capital não é gerado pela acumulação de dinheiro, mas de
conhecimento que vem, sobretudo, da escola. Por isso, educação é mais do que um
direito de cada pessoa, é o vetor do progresso nacional, tanto econômico quanto
social. A revolução está na garantia dos filhos dos trabalhadores e pobres nas
mesmas escolas que os filhos dos patrões e ricos.
É imperativo entender que estatal não é sinônimo de
público, renda não é sinônimo de bem-estar, e no “neoliberalismo social”, as
bolsas e cotas são necessárias, mas não representam as transformações
necessárias para trazer eficiência, justiça e sustentabilidade. Temos que
reconhecer que a inflação é uma corrupção que rouba todos, especialmente os
assalariados, aposentados e pobres. Portanto, a irresponsabilidade fiscal é um
crime contra os interesses de longo prazo da população e do país.
É essencial reduzir a importância das siglas
partidárias e valorizar alianças para abolir a exclusão social, reduzir a
desigualdade, equilibrar a ecologia, assegurar democracia, liberdade e direitos
humanos, lutar contra a corrupção e a defesa do meio ambiente. Saber que alguns
membros de siglas de “direita” têm mais compromissos progressistas do que
muitos filiados a siglas que se consideram de “esquerda”, mas defendem
privilégios.
3. Bandeiras
transformadoras
A “esquerda” não deve continuar no acomodamento da
luta limitada apenas a reivindicações por pequenos ganhos para os trabalhadores
e insuficientes políticas compensatórias para os pobres. Deve lutar para o
Brasil completar a Abolição e a República, por meio de bandeiras
transformadoras.
É necessário implantar sistemas públicos únicos de
educação e saúde, com a mesma e máxima qualidade para todos; erradicar o
analfabetismo de adultos; garantir sistema de água e esgoto para cada família,
com o direito a um endereço onde estabelecer sua moradia; oferecer amplo
programa de incentivos sociais que empregue para produzir o que as camadas
pobres precisam para sair da pobreza, tal como estudar, melhorar a moradia,
urbanizar e florestar; respeitar o rigor fiscal e equilibrar o orçamento por
meio de mais eficiência dos governos e mais impostos sobre as rendas altas; eliminar
privilégios, mordomias e vantagens financiadas com recursos públicos, inclusive
subsídios ao consumo das camadas ricas; defender o meio ambiente;
comprometer-se e defender a liberdade, a democracia, a diversidade e os
direitos humanos; e ser radicalmente intolerante com a corrupção no
comportamento dos políticos e na definição das prioridades.
*Cristovam Buarque, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB)
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