Queria,
por exemplo, que não houvesse uma mesquinha guerra pela vacina
Só
agora, com o início das obras de restauração do Cristo Redentor, é que me dei
conta de que temos a mesma idade — somos, ele e eu, de 1931. As semelhanças,
infelizmente, param por aí. O Cristo está mais bem conservado e, com a reforma,
vai ficar novinho em folha para continuar de braços abertos sobre a Guanabara.
Se antes ele já tinha sido eleito informalmente como uma das Sete Maravilhas do
Mundo, imagina quando for recauchutado.
Ele,
não sei, não perguntei, mas, de minha parte, não me lembro de ter vivido tempos
mais estranhos — e olha que “vivi” o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de
Jânio Quadros, a deposição de Jango, a ditadura militar, a redemocratização
etc. O problema é que agora foram reunidas todas as crises de uma vez só, a
começar pela pandemia — política, econômica, ambiental, ética.
Pessoalmente, não tenho do que me queixar. Enquanto mais de 200 mil brasileiros já foram impiedosamente exterminados pelo coronavírus, eu cheguei são e salvo a 2021, claro que em quarentena absoluta. O que que eu quero mais? Queria, por exemplo, que não houvesse uma mesquinha guerra pela vacina. A politização atingiu tal nível que o presidente chegou a ameaçar: “O povo brasileiro não será cobaia da vacina chinesa de João Doria”.
Desde
pequeno, uma de minhas rotinas anuais era me vacinar. Foi assim, com uma
picadinha no braço, que me livrei de poliomielite, coqueluche, varíola,
catapora, entre outras doenças cujos nomes nem me lembro mais. Não há razão para
explicar por que, apesar desse passado histórico, com um centenário instituto
como o Butantan, com uma vacina dentro dos padrões da OMS, como a CononaVac, o
governo demore tanto a iniciar o processo de imunização?
Enquanto
isso, como se as milhares de mortes pela pandemia não fossem suficientes, a
Polícia Federal expediu um recorde de 180 mil registros de armas de fogo em
2020, que servem, como se sabe, para produzir mortes, não para evitá-las.
Tempos estranhos. Por isso, por essa preferência, Bolsonaro, que já declarou querer uma pátria armada, é também conhecido como “BolsoNero”.
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