Bolsonaro
sonha com um problema na eleição presidencial
Na
sua entrevista aos repórteres Renan Truffi e Vandson Lima, o senador Tasso
Jereissati deu um aviso, coisa de quem conhece a política brasileira: “As
instituições precisarão ser fortes, trincar os dentes”. Há uma semana vê-se o
espetáculo da partida de Donald Trump num país de instituições fortes. Depois
de um sobressalto inédito, Joe Biden assumirá a Presidência dos Estados Unidos.
As instituições brasileiras não têm a força das americanas, e nos próximos dois
anos elas passarão por um teste de estresse.
Jair
Bolsonaro, com sua opção preferencial pelo apocalipse, já deu a pista: “Se nós
não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos
ter problema pior que os Estados Unidos”. O inesquecível Chacrinha dizia que
“não vim aqui para explicar, eu vim aqui para confundir”.
Ao confundir, Bolsonaro explicou: ele sonha com um problema na eleição presidencial. Ele já sonhou com saques na pandemia e com uma intervenção no Supremo Tribunal Federal. Um apocalipse viria do andar de baixo. O outro talvez viesse daquilo que ele chamou de “as minhas Forças Armadas”. Nenhum dos dois se materializou. Sabe-se lá o que Donald Trump tinha na cabeça, mas no dia 6 de janeiro os seus milicianos (“we love you”) bateram num muro e agora estão sendo recolhidos pela polícia.
A
pandemia e os problemas sociais dela decorrentes não foram produzidos pelo
governo de Bolsonaro, mas sua barafunda agravou-os. Outros, contudo, saíram
dele e, se isso fosse pouco, não têm origem racional.
Bolsonaro
já encrencou com os três maiores parceiros comerciais do Brasil. Ganha a
fritada de morcego do mercado de Wuhan quem for capaz de dizer o que o Brasil
tinha a ganhar metendo-se no processo eleitoral americano ou no argentino.
Ganha duas fritadas quem encontrar uma razão plausível para as caneladas que dá
no governo chinês.
Não
se sabe de outro presidente brasileiro que tenha encrencado com qualquer um dos
três sem motivo razoável. Isso acontece numa época em que poderosas empresas
industriais como Ford e Mercedes-Benz vão embora do Brasil. Nenhuma das duas
faz as malas por causa de Bolsonaro. As montadoras perderam dinamismo, e quem
ganhou vitalidade foi o agronegócio. Sem ter tomado medidas relevantes para
estimulá-lo, Bolsonaro associou-se aos agrotrogloditas e tisnou a marca das
exportações nacionais.
O
senador Jereissati mostrou o tamanho do problema e apontou uma conduta: “Temos
que trincar os dentes e termos instituições bem fortes: Congresso, Supremo,
imprensa”.
Serão
dois anos de sobressaltos, mas não há caminho melhor.
Seripieri
Num
artigo, o reputado empresário José Seripieri Júnior reclamou de um texto do
signatário relacionado com a delação que fez à Procuradoria-Geral da República
depois de passar alguns dias na cadeia e de ter pagado uma multa de R$ 200
milhões por suas práticas. A delação desse bem-sucedido conhecedor do mercado
de planos de saúde privados poderá, ou não, jogar luz sobre as relações
promíscuas de empresas com burocratas e políticos.
Homologadas em dezembro, as confissões de Seripieri ainda estão sob sigilo. Quando se tornarem públicas, seus confessos malfeitos poderão ser devidamente avaliados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário