A
saída da Ford. Presidente francês quer soja europeia para não depender da
brasileira
O
ministro Paulo Guedes, da Economia, soube pela imprensa do fechamento das
fábricas da Ford no Brasil e da retirada da empresa do país depois de mais de
100 anos. Foi a primeira montadora de automóveis a se estabelecer por aqui.
Guedes
caiu na mais irresistível tentação que acomete os homens públicos – mentir ou
exagerar. A primeira coisa que disse foi que o encerramento das atividades da
Ford no Brasil destoa da forte recuperação econômica que vive o país.
Foi
mais fundo o governador Rui Costa (PT), da Bahia, que sedia uma das fábricas
que será fechada: “Não há planejamento. O que pensaram nos últimos cinco anos
para aumentar os investimentos em tecnologia e industrialização? Nada.”
E
concluiu com uma frase de efeito, mas não distante assim da realidade: “Estamos
satisfeitos em nos tornarmos uma grande fazenda”. Bolsonaro preferiu criticar a
Ford e esconder que seu governo aumentou os subsídios dados às montadoras.
No
momento em que mais o governo hostiliza a China, o maior parceiro comercial do
Brasil, chamando a Covid-19 de vírus chinês, desancando a vacina CoronaVac e
rejeitando a tecnologia chinesa para o 5G, a quem ele pensa recorrer no caso da
Ford?
O Ministério da Economia já entrou em contato com outras montadoras sobre a possibilidade de elas assumirem as fábricas da Ford que serão fechadas em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e em Horizonte (CE). E uma das montadoras é a Chery, chinesa.
Quando
a necessidade aperta, às vezes o realismo prevalece mesmo em governos ineptos.
O céu não é de brigadeiro, nem mesmo de paraquedista afoito capaz de saltar
para a morte só porque lhe mandaram saltar, e ele se vê como um herói.
A
Ford vai embora porque atravessa uma crise empresarial faz anos dentro de uma
crise maior que atinge outras marcas famosas de veículos. Só falta o governo
brasileiro imaginar que se Donald Trump tivesse sido reeleito isso não
aconteceria.
O
amigo dileto de Bolsonaro nada fez pelo Brasil enquanto presidente dos Estados
Unidos – por que faria caso tivesse derrotado Joe Biden? E por que Biden
socorreria o Brasil se Bolsonaro apoiou Trump e justificou a invasão do
Capitólio?
No
início do seu governo, Biden pretende convocar uma reunião da Cúpula das
Democracias. Haverá lugares nela para Bolsonaro e outros chefes de Estado
marcadamente autoritários? É de duvidar que sejam convocados. Seriam estranhos
no meio.
O
mundo dito civilizado não gostou do que viu nos primeiros dois anos de governo
Bolsonaro e perdeu a esperança de que os próximos dois anos sejam diferentes. O
presidente brasileiro prepara-se para começar a colher o que plantou.
Emmanuel
Macron, presidente francês, outro governante destratado por Bolsonaro que
chamou sua mulher de feia, deu uma ideia do que possa vir quando disse, ontem,
em Paris durante a cúpula sobre a defesa da biodiversidade:
–
Continuar a depender da soja brasileira seria endossar o desmatamento da
Amazônia.
Aperte
os cintos, Bolsonaro.
A
responsabilidade do governo nas mortes pela Covid-19
A
mentira que custa vidas
Fora
a vacina, não há tratamento precoce para a Covid-19. Quando o presidente Jair
Bolsonaro diz que há, mente, e sabe que mente. Como mentem todos os seus acólitos
que repetem o que ele diz. Simples assim. Mas parece que não cansam de mentir.
As
mais recentes digitais da mentira governamental responsável por tantas mortes
estão em ofício encaminhado à Prefeitura de Manaus, na última sexta-feira, onde
o Ministério da Saúde pede para visitar as Unidades Básicas de Saúde da cidade.
Qual
seria o propósito da visita? Difundir “o tratamento precoce como forma de
diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”. Mas
tratamento com base no quê? Está dito no ofício publicado pelo jornal Folha de
S. Paulo:
“Aproveitamos
a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das
medicações antivirais orientadas pelo ministério, tornando, dessa forma,
inadmissível, diante da gravidade da situação, a não adoção da referida
orientação”.
As
medicações defendidas pelo governo não têm eficácia no tratamento do vírus.
Mas, e daí? Na nota informativa 17/2020, o Ministério da Saúde sugere um
combinado de cloroquina ou hidroxicloroquina com azitromicina.
O
ofício enviado à Prefeitura de Manaus é assinado por Mayra Pinheiro, secretária
de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde. Ela tornou-se conhecida em 2013
por ter hostilizado cubanos que participavam do curso do programa Mais Médicos.
Em
julho de 2020, Mayra escreveu nas redes sociais que os governadores e prefeitos
de São Paulo eram os responsáveis pelas mortes por coronavírus que aconteceram
em suas regiões por dificultarem “o acesso às medicações para tratamento da
doença.”
Bolsonaro
avalizou, ontem, a posição de Mayra e culpou o governador do Amazonas e o
prefeito de Manaus pelo aumento de mortes por lá:
“Mandamos o nosso ministro da Saúde [ao Estado]. Estava um caos. Não faziam tratamento precoce. Aumentou assustadoramente o número de mortes. E mortes por asfixia, porque não tinha oxigênio. Deixaram o oxigênio acabar”.
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