Bolsonaro
constrói os pilares do governo sobre os escombros de suas promessas em 2018
Eleições
e jogos de futebol não se ganham de véspera, mas, pelo andar da carruagem, dos
cargos e emendas extras, os dois grandes vencedores na disputa de amanhã pelo
comando da Câmara e Senado serão o presidente Jair Bolsonaro e o
senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).
O grande derrotado tende a ser o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ),
que teve importante papel na longa presidência da Câmara, mas tropeçou na reta
final.
Assim
como os militares aderiram à velha boquinha e à subserviência por conveniência
que tanto criticavam nos políticos, Bolsonaro mergulhou de cabeça na velha
política, na compra de votos, no toma lá dá cá, no Centrão e até nas mordomias
que estufava o peito para condenar. Era tudo de boca para fora. Agora cai o
pano, caem os pruridos, os escrúpulos.
Na mesma semana em que o governo anunciou o maior rombo das contas públicas da história, com um déficit de R$ 743,1 bilhões, ou 10% do PIB, o Estadão nos informa que o Planalto despejou R$ 3 bilhões em recursos “extras” – além das emendas parlamentares tradicionais – para 250 deputados e 35 senadores. Não é pura coincidência ser justamente agora, às vésperas das eleições no Congresso.
Dinheiro para prorrogar o auxílio emergencial não há e fórmulas para ampliar a abrangência e o valor do Bolsa Família ainda não estão no ar, mas o site Metrópoles revelou gastos de R$ 2,2 milhões com chicletes e R$ 15,6 milhões com leite condensado, para dar “energia” aos soldados. Bolsonaro, sendo Bolsonaro, reagiu atacando a imprensa e contaminando o ar com palavrões. E se fosse no governo Lula?
É
sobre os escombros de suas promessas de 2018 que o presidente vai construindo a
sustentação de seu governo, de suas ideias, projetos e pautas demolidoras. Foi
assim que ele moldou uma vitória e tanto no Congresso, onde desfilou por 28
anos. A gente achava que não tinha aprendido nada, mas aprendeu tudo
direitinho.
Com
a faca e o queijo na mão, mais chiclete e leite condensado à vontade, Bolsonaro
usa cargos e acena com ministérios para satisfazer a gula da turma. É preciso
explicar: o Centrão está louco pelas vagas, mas Bolsonaro está louco é para
cooptar parte do DEM (o próprio Alcolumbre?), MDB e PSDB para o governo. Seu
objetivo é rachar o centro. A esquerda racha sozinha.
No
Senado, Alcolumbre escolheu o favorito Rodrigo Pacheco (DEM-MG),
o levou de bandeja para Bolsonaro e viabilizou sua vitória, enquanto o MDB
fazia a lambança de sempre e a senadora Simone Tebet (MDB-MS)
achava possível ganhar com uma campanha de ideias, princípios e juras de
independência. Um sonho de verão.
Na Câmara, o líder do Centrão Arthur Lira (PP-AL) é favorito e única chance de mudança de última hora é que, com nove candidatos, três têm potencial para ter uns votinhos, forçar o segundo turno e se unir em torno de Baleia Rossi (MDB-S). Outro sonho de verão.
Bolsonaro
perdeu a guerra da primeira vacina e da primeira foto para João Doria, mas ri à toa
diante da perspectiva de vitória para Rodrigo Maia, candidato a ser o grande
derrotado amanhã. Uma pena. Em três mandatos consecutivos na Presidência da
Câmara, ele se superou, galgou vários degraus na hierarquia política e assumiu
a cara e a voz da oposição a Bolsonaro.
Sempre
pode haver surpresas (vide Severino Cavalcanti em 2005), mas Maia blefou com a
reeleição no STF, demorou a definir um candidato, superestimou suas armas
diante do arsenal do Planalto e, assim, ameaçou sua posição de ponte entre
líderes e partidos de centro para 2022.
Ele, porém, tem 50 anos e oxigênio político nesse deserto de homens e ideias. O mundo dá voltas, a política é como nuvem e o Brasil precisa, mais do que leite condensado e chiclete, de seus principais quadros para enfrentar o que está aí.
Um comentário:
Excelente, Eliane!!!
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