Para
eleger um presidente que nos conduza ao futuro é preciso primeiro impedir um
presidente que só vê o passado
Na
véspera de iniciar nosso terceiro centenário, precisamos mais que nunca de um
presidente capaz de inspirar coesão no presente e rumo para o futuro. Estamos
divididos em grupos que não se reconhecem como partes de um mesmo povo, seja
pela desigualdade na renda ou pelo sectarismo nas ideias. Estamos ficando para
trás na história, sem sintonia com o mundo, por falta de base científica e
tecnológica, de capacidade de produzir e poupar, falta de infraestrutura
econômica, de solidariedade social e nacional, sobretudo de educação de qualidade
para todos. Mas, apesar destes desafios para o terceiro milênio, nossa tarefa
imediata é impedir a continuação do atual quadro de divisão sectária, negação
da realidade, incompetência gerencial e falta de visão de futuro.
Em 1985, consciente da responsabilidade de impedir a continuação do regime militar, os democratas se uniram, desde os mais progressistas aos mais conservadores, com exceção do PT, que preferiu não votar em Tancredo Neves. A união permitiu cinco anos de democracia, com sucessivas eleições para escolher rumos conforme a proposta de cada candidato. Por nossos erros, nossas divisões, por prioridades e comportamentos equivocados, deixamos que forças autoritárias e retrógradas voltassem ao poder com o voto dos eleitores. Corremos o risco desta interrupção de nossa marcha ao futuro continuar, reeleita pelo eleitor.
Para
eleger um presidente que nos conduza ao futuro é preciso primeiro impedir um
presidente que só vê o passado e destrói o presente construído nos últimos 35
anos de democracia. Nossa tarefa imediata é impedir a continuação do
retrocesso. Elegermos um presidente que permita retomar o debate democrático
com bom senso, respeito à verdade e ao contraditório, e então ganharmos impulso
para os anos adiante.
Entre
1985 e 1919 fomos capazes de construir uma democracia sob Constituição
duradoura; estamos no mais longo período de estabilidade monetária, com uma
única moeda; implantamos programas de solidariedade com transferência de renda
para os pobres; colocamos quase todas nossas crianças em escolas; mais que
dobramos o número de estudantes universitários; conseguimos presença
internacional respeitada; demos substanciais avanços nos direitos humanos; mas
estamos ameaçados de perder tudo isto.
Temos
a obrigação de voltarmos a nos unir em 2022, para elegermos um presidente
comprometido em recuperar as conquistas dos últimos 35 anos. Para enfrentar o
presidente atual, precisamos apresentar um candidato único, desde o primeiro
turno, com baixa rejeição entre os eleitores. Os atuais candidatos precisam
deixar seus projetos, metas e interesses nacionais e pessoais para a eleição
seguinte; se unirem agora em torno àquele que assuma o compromisso de manter os
acertos da democracia e que tenha as melhores condições para atrair os
eleitores, graças à menor rejeição ao seu nome, e assuma o compromisso de
apenas um mandato. Os demais candidatos adiam suas disputas para 2026 ou
assumem o risco de verem 2022 repetir 2018. Os candidatos naturais em 1985,
grandes líderes, entenderam o que a história precisava e adiaram suas
candidaturas para 1989, dentro do marco democrático. Fizeram unidade e
garantiram transição.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
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