sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Ricardo Noblat - O Dia D+1: a opção preferencial do governo pela morte

- Blog do Noblat / Veja

Negacionismo suicida

A Amazônia é nossa. Mas o oxigênio que falta nos hospitais de Manaus por incúria dos governos estadual e federal pode ser venezuelano ou brasileiro, a ser transportado por aviões da Força Aérea dos Estados Unidos. Em breve, chegará por lá a vacina da Universidade de Oxford importada da Índia. A conferir, porém.

Um Boeing da companhia Azul decolou, ontem à noite, de São Paulo para o Recife. Está previsto que na madrugada de amanhã decole com destino a Nova Deli para buscar 2 milhões de doses da vacina inglesa. Ocorre que o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia pôs em dúvida a entrega da encomenda.

Anurag Srivastava afirmou que “é muito cedo” para dar respostas sobre exportações das vacinas produzidas no país, já que a campanha nacional de imunização ainda está só começando. A declaração foi dada em resposta a perguntas de jornalistas sobre o que o governo brasileiro dava como certo.

Sem tirar nem pôr, o que disse Serivastava à imprensa internacional: “O processo de vacinação está apenas no começo na Índia. É muito cedo para dar uma resposta específica sobre o fornecimento a outros países, porque ainda estamos avaliando os prazos de produção e de entrega. Isso pode levar tempo”.

Tem algum caroço nesse angu. Primeiro, o ministro Eduardo Pazuello, da Saúde, anunciou a compra da vacina ao governo indiano. Depois, a decolagem, ontem, do Boeing da Azul para trazer os 2 milhões de doses. Finalmente, admitiu que problemas técnicos atrasaram o voo por mais um dia.

Quer dizer: marcado para a próxima terça-feira, o Dia D do início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, na melhor das hipóteses, será lembrado no futuro como o Dia D+1. Quanto à hora H, terá também de ser revista, o que pode empanar o sucesso da Operação Ponte-Aérea de distribuição da vacina.

Perceberam? O pior dia do Brasil sob o governo Jair Bolsonaro é sempre amanhã. Até quando os que têm poder para dizer “basta” ou “fora” assistirão inertes o que acontece? Vai ficar aí parado? Morre gente asfixiada por falta de oxigênio em uma das maiores capitais do país. E daí? Ninguém será preso por isso.

Quem não seria capaz de fazer qualquer coisa para não morrer? E por que um presidente eleito não faz tudo ao seu alcance para salvar a vida dos seus governados? Ele está certo e o mundo errado quando endurece medidas de isolamento, multa quem não usar máscara e injeta dinheiro na veia dos mais pobres?

Enquanto pessoas morrem por falta de oxigênio em Manaus, o governo do Amazonas, orientado pelo Ministério da Saúde, recomenda o tratamento precoce do vírus com cloroquina. Bolsonaro voltou a pôr em dúvida a eficácia das vacinas. Isso é crime contra a humanidade, previsto em leis.

Pazuello reconheceu o “colapso” na saúde de Manaus e revelou que a fila por um leito é de quase 500 pacientes. Ele voltou de lá faz uma semana. Não se deu conta de que haveria um colapso? Ninguém lhe contou? E por que o governo não se antecipou ao colapso? Por que não quis? Por incompetência? Crueldade?

Não se vacinar é “negacionismo suicida”, disse o Papa Francisco depois de ser imunizado junto com o ex-Papa Bento XVI. Logo, Bolsonaro é um “negacionista suicida” – alguma dúvida? Mas fale para ele sobre essas coisas… Na hora, sacará do coldre o ministro da Justiça que o ameaçará com um processo.

O que fez Bolsonaro no dia em em Manaus parou de respirar

Presidente do Banco do Brasil pode ser demitido por causa de Seu Jorge

No dia em que o Brasil registrou nas últimas 24 horas mais 1.151 mortes pela Covid-19, e a média móvel de mortes nos últimos 7 dias foi de mais 42% em comparação à média de 14 dias atrás, o que ocupou a maior parte do expediente de Jair Bolsonaro?

Pela ordem: a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado que está lhe custando muitos cargos no governo; a demissão do presidente do Banco do Brasil que poderá acontecer ou não a qualquer momento, e a live semanal no Facebook.

Na live, ele e o ministro da Saúde Eduardo Pazuello, general especialista em logística militar, culparam a falta de estrutura e de um tratamento precoce pelo colapso do sistema de saúde em Manaus, onde pessoas morrem por falta de oxigênio.

Pazuello culpou também o clima hostil da região amazônica e falou sobre a dificuldade de fazer as coisas chegarem a Manaus por via marítima ou aérea. Embora conheça bem a região, parece ter-se dado conta disso só recentemente.

André Beltrão, por ora, está presidente do Banco do Brasil. Uma das razões para Bolsonaro querer mandá-lo embora foi um show virtual de Seu Jorge patrocinado pelo banco. A ala radical do governo acusa Seu Jorge de ser de esquerda.

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