A
patacoada do instituto é um desserviço à ciência
A necessidade do "fair play" não está restrita à política. Ela é ainda mais vital na ciência. Se pesquisadores fraudam ou embelezam os dados de seus trabalhos, minam a confiança na própria comunicação da ciência, que é o que a viabiliza como atividade colaborativa e cumulativa.
Se
cada cientista tivesse de refazer pessoalmente todos os passos de seus
antecessores, nós ainda estaríamos discutindo se a Terra é redonda, não só nas
redes sociais, onde todos os delírios são permitidos, mas também na academia.
Faço
essas reflexões como um lamento. Foi patética a participação do Instituto
Butantan na entrevista coletiva da semana passada, em que se
anunciou uma eficácia de
78% para a Coronavac. Na mais honesta entrevista desta semana, quando mais
dados foram revelados, ficamos sabendo que a eficácia apurada no estudo foi de
50,4%. Os 78% representavam o recorte de casos que demandaram alguma
assistência médica, não o total de sintomáticos.
Até acho que os 78% são um número mais relevante que os 50,4%, mas o "fair play" científico não tolera que se propagandeie o primeiro sem nem mencionar o segundo, como se fez na primeira coletiva. Que um político medíocre e marqueteiro como João Doria tenha aprontado essa é esperado. Que o Butantan, que conhecia os dados, tenha chancelado a patacoada é um desserviço à ciência. Penitencio-me diante do leitor por ter reproduzido os 78% sem questionamento.
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