Eu
conto ou vocês contam ao ministro Paulo Guedes que o projeto dele acabou? Nunca
teve viabilidade com o atual presidente, na verdade. Guedes embarcou numa canoa
na qual não havia espaço para as ideias liberais. Ele sofre vetos diários às
suas propostas e tem engolido em seco. Não privatizou, não reduziu barreiras ao
comércio, exceto de armas, não diminuiu o tamanho do Estado. Seus assessores,
ou gestores nomeados por ele, de vez em quando ficam no dilema entre a demissão
ou ser humilhado pelo presidente Bolsonaro. Tudo o que conseguir agora será
prêmio de consolação.
A
lista da intervenção de Bolsonaro nos assuntos do Ministério da Economia é
enorme. Nesses dois anos, Bolsonaro vetou propaganda do Banco do Brasil,
revogou um aumento da gasolina, avisou que nem a Ceagesp será privatizada,
criou e capitalizou estatais militares, sepultou o projeto de fusão dos
programas sociais, demitiu o presidente do BNDES, o secretário da Receita
Federal. O secretário da Fazenda teve que sumir para não perder o cargo. A
reforma administrativa dormiu na gaveta do presidente até ficar bem aguada,
irreconhecível.
Na
semana passada, o presidente disse que o Brasil havia quebrado e não podia
fazer mais nada. Só isso já deveria ser o suficiente para o ministro, que
chegou acusando de incompetentes todos os antecessores, pegar o seu boné. Mas
ele, que estava de férias, preferiu sair do seu descanso e, mais uma vez,
justificar a declaração do presidente.
O
Tesouro terá que rolar mais de R$ 600 bilhões de dívida nos primeiros quatro
meses. Se o presidente diz que o país está quebrado, o que os financiadores da
dívida podem pensar? O ministro, quando tenta justificar tudo o que o
presidente diz, erra. Nesse caso ele disse que Bolsonaro só se referia ao setor
público. Piorou a declaração.
No
Chile de Pinochet, os Chicago Boys impuseram reformas liberais num projeto ditatorial
que deixou milhares de mortos. Liberalismo deveria ser o oposto de
autoritarismo, mas muitos que se definem como “liberais” não são
necessariamente democratas. O grupo que foi ao poder com Bolsonaro nunca se
incomodou com a defesa que ele faz da ditadura e da tortura. Nunca se incomodou
que ele disse, quando deputado, que a ditadura deveria ter matado 30 mil. Para
eles, o importante é que iriam reduzir o tamanho do Estado, abrir a economia,
privatizar, vender imóveis públicos, acabar com os subsídios. No 25º mês da
administração, tudo o que têm para mostrar é uma reforma da Previdência que foi
feita pelo Congresso e na qual o presidente só entrou para defender vantagens
corporativas para a sua clientela.
Paulo
Guedes já sabe que não deu. Mas tentará terceirizar a culpa para o Congresso, a
oposição, Rodrigo Maia, a imprensa, a social-democracia. Vai fazer vistas
grossas para todo o autoritarismo do governo. Inclusive na economia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário