Ministro recebeu elogios e afagos do presidente por dois dias, mas não apoio efetivo com resultados práticos
O
presidente Jair Bolsonaro elevou
de patamar o jogo de morde e assopra com o ministro da Economia, Paulo Guedes, após o estopim provocado
pela demissão do presidente da Petrobrás, as ameaças de mais intervenção na
economia e o impacto de tudo isso no mercado financeiro.
Guedes
recebeu elogios e afagos do presidente por dois dias, mas não apoio efetivo com
resultados práticos. Segue, portanto, pressionado pelo Palácio do Planalto,
ministros próximos do presidente e pelos aliados no Congresso.
O
Ministério da Economia pode até dizer que o Guedes fez do limão uma limonada ao
conseguir que o presidente fosse com ele numa caravana até o Congresso para entregar o texto
da MP de privatização da Eletrobrás numa estratégia bem
encenada que recebeu “aplausos” do mercado financeiro após o “combo” que levou
ao tombo das ações da Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, alta de juros, perda
de confiança e disparada do dólar.
Esse é um jogo em que ninguém é enganado, muito menos o mercado que passa a mão na cabeça no governo e ajuda a desorganizar as coisas. O Congresso não é lugar de "protocolo" de projetos, em que se tem uma resposta passados X dias úteis. Lá, o governo precisa trabalhar pela aprovação de suas propostas.
O
teste final do apoio a Guedes não será com a Eletrobrás. Tampouco com a
privatização ou abertura de capital dos Correios, que entrou novamente em cena
como resposta aos desdobramentos da troca na Petrobrás.
A
prova de fogo para o ministro no cargo também pode até não ser a votação da PEC
fiscal para a concessão do auxílio emergencial,
que foi apresentada com medidas fiscais.
A
equipe do Ministério da Economia não abre mão desse reforço no controle dos
gastos públicos e sobe o tom nos bastidores para impedir o fatiamento do texto
no Senado, que quer aprovar apenas a parte do auxílio na proposta. “Não vamos
ceder a isso”, afirmam em coro. A Câmara também quer o mesmo, como revelou
reportagem do Estadão.
A
tendência, porém, é de aprovação de uma PEC desidratada porque os parlamentares
alegam urgência para o auxílio. Um movimento esperado diante do fato de que a
equipe econômica quer colocar um conjunto de medidas muito grande, além do bode
na sala do fim do piso constitucional para aplicação de recursos orçamentários
em saúde e educação. Não passa, mas serve para desviar a atenção.
A
valentia da equipe econômica em não querer ceder na PEC mostra resiliência, mas
o seu sucesso dependerá de até onde o presidente Jair Bolsonaro estará
disposto, na prática, a dar apoio à PEC “cheia”: auxílio mais contrapartidas
fiscais.
Bolsonaro
defendeu o auxílio, mas até esse momento não deu uma palavra contundente em
defesa da aprovação das contrapartidas fiscais que lotaram o parecer do
senador Márcio Bittar.
Nesta quarta-feira, repetiu que é preciso ter responsabilidade fiscal. Sem
ação, de nada valem essas palavras.
Se
o presidente não entrar em campo, mesmo que só nos bastidores, o ministro vai
perder mais essa parada e terá que apostar num compromisso dos parlamentares de
aprovar uma segunda PEC até o final do segundo semestre com o resto das
medidas.
Essa
segunda PEC foi defendida por lideranças antes da divulgação do parecer de
Bittar, mas Guedes e sua equipe apostaram no tudo ou nada com o temor de
repetir o que ocorreu com a PEC paralela, resultado da divisão da reforma da
Previdência no Senado e que foi abandonada mais tarde. A inclusão na PEC de
medidas polêmicas, jabutis e afins só dificultou ainda mais a tramitação. Não
dá para querer abarcar o mundo numa situação de emergência.
Mesmo
como todos os reveses, o pior cenário para o ministro poderá se dar mesmo com
uma eventual decisão do presidente de demitir secretários especiais da pasta e
dividir o ministério na reforma ministerial. Tem muita gente querendo recriar
os ministérios do Planejamento, Indústria e Comércio, além de Previdência e
Trabalho.
Guedes
já disse da boca da fora que “podem ficar com a Previdência porque já teve a
reforma”, mas não é bem assim. A gota d'água para ele poderá ser mesmo o
fatiamento do Ministério da Economia e a demissão pelo presidente de seus
auxiliares.
O que se sabe após o episódio da Petrobrás é que as mudanças não vão parar por aí. É só o começo no que está sendo chamado no Palácio do Planalto como “ajuste de estrutura”. O "assopra" agora do presidente, que disse que Guedes é uma âncora para o governo, tem tudo para virar um "morde" logo mais, a depender do que se viu até aqui.
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