A
intervenção de Bolsonaro na Petrobrás é mais uma das inúmeras demonstrações de
que seu objetivo é ganhar as eleições de 2022
Algumas
decisões do presidente Jair Bolsonaro podem passar a
impressão de que a estratégia continua sendo de política econômica liberal. Mas
é grave engano.
A
intervenção desastrada do presidente na Petrobrás produziu enormes
estragos. A principal divergência de Bolsonaro com o presidente da
Petrobrás, Roberto Castello Branco, talvez não
tenha sido a questão dos preços
dos combustíveis nem a política adotada, mas de falta de
afinidade visceral, do tipo “não vou com tua cara, e pronto”. Mesmo se fosse
por aí, não seria preciso tanta truculência.
A substituição do presidente da Petrobrás poderia ter sido feita com jeito. Afinal, o mandato de Castello Branco terminaria em março. Se o chefe dos acionistas majoritários quisesse trocar o comando da Petrobrás, como se viu que quis, teria bastado acionar os mecanismos ordinários previstos para isso sem a turbulência que se viu depois.
De todo modo, Bolsonaro parece ter sentido a necessidade de olhar para o outro prato da balança. Primeiramente, tratou de afagar a cabeça do ministro da Economia, Paulo Guedes, que vinha sendo ignorado. Na terça-feira, trabalhou para dar andamento no projeto de privatização da Eletrobrás – outro item da agenda liberal.
Nesta
quarta-feira, além de
sancionar a lei de autonomia do Banco Central,
pleito que não pode ser considerado populista, o governo também encaminhou ao Congresso o projeto de privatização dos
Correios.
Há
alguns meses, o governo mudou sua política
em relação à China. A hostilidade
ostensiva aos produtos chineses, manifestada inicialmente na definição das
regras da conexão 5G, foi trocada por atitude mais pragmática.
A vacina Coronavac,
produzida pelo Instituto Butantan em
parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, teve há alguns meses o veto do presidente por ser “vacina da
China e do governador João Doria”. Mas, diante da
necessidade de iniciar a vacinação contra a covid-19 no País, o Ministério da
Saúde acabou autorizado a comprá-la. Pesaram nessa mudança de postura os interesses do agronegócio, o setor mais dinâmico da
economia brasileira.
Mas
essa aparente correção de rotas não significa reconversão a uma política
econômica de equilíbrio fiscal e de apoio às reformas, onde prevalecessem a
racionalidade das decisões e os princípios da livre concorrência.
Bolsonaro
deu inúmeras demonstrações de que seu objetivo é ganhar as eleições de 2022, custe o que
custar. Para isso, ele precisa que a economia supere o atual marasmo e os 14 milhões de desempregados.
Depois de ter feito os acordos já conhecidos com o Centrão, pretende conseguir
a virada da economia com distribuição de auxílios sociais sem contrapartida de
corte de despesas, com desoneração dos combustíveis também sem contrapartida
fiscal, com preços artificiais da energia elétrica e com uma espécie de bolsa
subsidiada aos caminhoneiros.
Ele também afirma que o dólar acima de R$ 4,50 não atende a seus objetivos. Mas não disse como conseguiria derrubá-lo dos níveis atuais. Será esse seu próximo alvo?
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