Autoridades e donos do dinheiro tomam atitudes que mostram descrédito terminal
Governos,
prefeitos e empresas querem comprar vacinas. Articulam politicamente as
autorizações formais. Em parte, já
foram concedidas por decisão do Supremo e ainda podem se tornar lei de
iniciativa do Senado, que Jair Bolsonaro já ameaça vetar ao menos parcialmente.
É
um sinal óbvio e agora levado às vias de fato, por assim dizer, de que acabou a
confiança que poderia restar na capacidade
do almoxarifado da Saúde de comprar vacinas a fim de acelerar a
imunização.
É
apenas um dos sinais de descrédito terminal.
O
governo avalizou proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza a renovação
do auxílio emergencial, a criação de um sistema novo de decretação
de estado de calamidade nacional e estipula medidas de contenção do
aumento de gastos, grosso modo com servidores e outras despesas obrigatórias,
além de acabar com o piso de despesa em saúde e educação. Não há medidas de
redução de despesa, ressalte-se.
É
possível que não passe nada além do auxílio emergencial dessa emenda que nada
mais é do que o resto lipoaspirado e amputado de um pacotaço de PECs enviadas
pelo governo ao Congresso em 2019.
O governo não tem articulação política. Paulo Guedes acha que pode “colocar granadas no bolso do inimigo”, passar medidas com truques, pegadinhas e “planos infalíveis”. Não vai. Talvez fiquem na PEC as medidas de contenção de despesa que evitem a explosão do teto de gastos ou a paralisia da máquina pública —e olhe lá. Parlamentares já querem deixar também esse assunto para depois, aprovando apenas o auxílio emergencial.
Bolsonarices
paralisam a política. A arenga selvagem do deputado
bolsonarista “Daniel do Quê?”, o Massaranduba, ainda rende. O Congresso se
dedicava nesta quarta (24) a aprovar a PEC da impunidade, protegendo
parlamentares de quase qualquer barbaridade que cometam durante o mandato e
ANTES TAMBÉM. É a lei Massaranduba-Flávio Bolsonaro.
A
bolsonarice de meter
o “dedo” no setor elétrico e as botas
na Petrobras ainda rende. As taxas de juros no atacadão de dinheiro
estão nos níveis mais altos desde o pânico de março de 2020, início da
pandemia. Isto é Bolsonaro: encarece investimento privado, o crédito e a dívida
do governo.
Empresas
de setores sujeitos mais à mão grande, peluda e visível do governo estão
dizendo que devem ir para a retranca (infraestrutura: concessões de transportes,
saneamento, energia etc.) Isto é Bolsonaro: prejudica investimentos criando
incerteza.
Affonso
Celso Pastore, um economista muito respeitado entre seus pares “mainstream”
(“liberais”, “ortodoxos”, o nome que se dê) e entre empresários, deu nesta
quarta-feira uma entrevista
ao jornal O Estado de S. Paulo em que praticamente pede ao setor
privado que se revolte em público contra o estrago bolsonarista na economia.
Disse ainda que Bolsonaro é um populista com propensão a ser ditador.
O show
da privatização da noite de terça (23) não colou muito, principalmente
entre parlamentares. Bolsonaro e ministros foram ao Senado entregar de modo
espalhafatoso e cafona a medida provisória (MP) da privatização da Eletrobras,
para “prestigiar” Paulo Guedes.
Até
ontem, a maioria dos parlamentares era contra a venda companhia; não há nova
articulação do governo para vencer essa barreira. Para piorar, a privatização,
além do mais lançada por meio de MP, pode acabar nos tribunais. Mais: algumas das
patadas de Bolsonaro na Petrobras vão acabar na Justiça.
Como se já não tivesse feito estrago bastante, Bolsonaro e bolsonarismos arruínam o início do novo ano.
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