Uma
tragédia que poderia ter sido mais bem enfrentada se houvesse vontade e
competência
Em
países onde o sistema de governo é parlamentarista, há muito teria sido apeado
do poder o chefe de Estado que sabotou o combate à pandemia da Covid-19,
o maior flagelo da humanidade nos últimos 100 anos, celebrou a morte preocupado
acima de tudo em salvar a economia e não se empenhou em vacinar a população.
Lembra
alguém? Por aqui o sistema de governo é presidencialista. E um presidente só
pode ser impedido de completar seu mandato mediante um processo de impeachment.
Mais de 60 pedidos repousam no fundo de uma gaveta do presidente da Câmara dos
Deputados. Se não andaram antes, agora muito menos.
Enquanto
isso, há um ano a ser completado amanhã do primeiro caso de coronavírus no
Brasil, o país ultrapassou a pavorosa marca de 250 mil mortes (exatas 250.079)
e de 10 milhões de doentes (exatos 10.326.008). O vírus já matou no mundo
2.492.886 pessoas. Aqui, nas últimas 24 horas, 1.433, um novo recorde.
Os
Estados Unidos continuam na liderança em número de mortes – 504.738. Em seguida
vem o Brasil com cerca de 10% de todas as mortes do planeta. Depois, México,
Índia e Reino Unido. São, em média, 49.533 novos casos por dia no Brasil, 9% a
mais do que 14 dias atrás. É de 1.129 a média de mortes por dia.
O
total de vacinados com a primeira dose corresponde apenas a 2,92% da população
brasileira. E com a segunda dose, 0,75%. Nos primeiros 55 dias deste ano, as
mortes por Covid no Amazonas (5.357) superam o total das mortes do ano passado
naquele Estado. Tem gente ainda morrendo por lá sem oxigênio.
Entre as mais recentes trapalhadas do Ministério da Saúde comandado por um general que é especialista em logística militar, destaca-se a que ocorreu ontem. Era para o Amazonas ter recebido 78 mil novas doses de vacina, e o Amapá 2 mil. Aconteceu justamente o contrário. O erro seria corrigido nesta madrugada.
Logo
no pior momento da pandemia no Brasil, estados padecem da falta de dinheiro do
governo federal para garantir leitos extras de UTI. Em dezembro, o Ministério
da Saúde bancava 60% dos leitos de UTI do SUS para tratamento de Covid. Em
janeiro, esse número foi reduzido pela metade. Neste mês, caiu para 15%.
A
pandemia ainda estava no começo quando o Ministério da Saúde anunciou a
parceria com o laboratório anglo-sueco que produz a vacina AstraZeneca. A
assinatura do contrato ocorreu em setembro último e garantiria a entrega de cem
milhões de doses da vacina. Só recebeu até agora um dos 14 lotes de matéria
prima previstos.
O
governo mexeu-se com muita lentidão para a compra de vacinas e a procura por
elas é maior do que a oferta. Existem 6 marcas de vacinas testadas e aprovadas.
A da Pfizer é uma delas. Até agora, 52 países já aceitaram a cláusula de
responsabilidade e fecharam contratos para receber a vacina da Pfizer. O
Brasil, não.
Se
tivesse dependido só do presidente Jair Bolsonaro, nem a CoronaVac, vacina
chinesa produzida pelo Instituto Butantan, teria sido comprada. Ele a batizou
de “vacina do Doria”, sobrenome do governador paulista. Pressionado, acabou
autorizando a sua compra. Recuou depois. E finalmente concordou.
Deixe
estar. Parte das mortes pelo vírus irá parar na conta dele – e com razão.
Apologia
à ditadura militar X encomenda de morte
Ouvidos
pelo jornal O Estado de S. Paulo, dos 21 titulares do Conselho de Ética da
Câmara apenas três defenderam a punição do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ)
que completou nove dias de prisão por ter feito apologia à ditadura militar. Os
demais não disseram como votarão o processo de cassação aberto contra ele.
A
prisão de Silveira foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal, aprovada por seus pares e endossada pela Câmara. O
processo para a eventual cassação do mandato dele foi instaurado ontem. Mas
tudo indica que, se tanto, ele receberá algum tipo de censura, ou nem mesmo
isso.
O corporativismo é grande na Câmara. A maioria dos deputados teme que a punição de um deles abra caminho para a punição de outros. É por isso que Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, quer aprovar uma emenda à Constituição que fecharia de vez a porta a novas prisões de parlamentares por ordem do Supremo.
São
poucos os deputados que não respondem a algum processo. O próprio Lira é réu
duas vezes no Supremo por crimes de corrupção. Favorece Silveira o fato de o
seu caso vir a ser examinado juntamente com o caso da deputada Flordelis
(PSD-RJ), acusada de ter mandado matar seu marido, o pastor Anderson do Carmo.
Deputados consideram que não se pode aplicar o mesmo tratamento a Silveira e a Flordelis. Assassinato não se compara à apologia da ditadura. Jair Bolsonaro está também empenhado em livrar a cara de Silveira. O que poderá complicar mais a vida dele é o que venha a ser encontrado em seus celulares apreendidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário