No
último dia de reinado na Câmara, Rodrigo Maia ameaçou receber um dos 62 pedidos
de impeachment que adormeciam em sua gaveta. A bravata gerou marola nas redes
sociais, mas não chegou a assustar o governo. Aos ouvidos da classe política,
soou apenas como um ato de desespero.
Maia
teve diversas chances de frear a escalada autoritária do bolsonarismo. Ele viu
o presidente tramar um autogolpe, estimular motins nas polícias e atiçar
radicais que pregavam o fechamento do Congresso e do Supremo. Em vez de
permitir a abertura de um processo de cassação, preferiu lavar as mãos e
distribuir notas de repúdio.
Ao
ser cobrado pela omissão, o deputado dizia não ver base jurídica para o
impeachment. Crimes de responsabilidade não faltaram. Faltou coragem para
enfrentar extremistas e contrariar agentes econômicos que lucram com o
desgoverno.
No
sábado, Maia engrossou a voz e acusou os bolsonaristas de adotar métodos do
fascismo. Esses métodos estão em uso desde a campanha de 2018, quando o então
presidenciável ameaçava fechar jornais e mandar adversários para a cadeia ou o
exílio.
Sem
a prisão de Fabrício Queiroz, o plano da quartelada poderia ter evoluído das
palavras à ação. Bolsonaro foi contido pelo cerco judicial a seus filhos, não
pela covardia do Legislativo.
Maia perdeu duas vezes o bonde do impeachment. Ele passou pela primeira vez entre março e abril de 2020, quando o capitão ejetou dois ministros da Saúde e virou alvo de panelaços diários. A inércia da Câmara permitiu que Bolsonaro continuasse a atuar a favor do vírus. Ele recuperou popularidade com o auxílio emergencial e conseguiu se equilibrar na cadeira.
O
bonde voltou a passar no mês passado, quando ficou claro que o negacionismo
federal deixou o país no fim da fila das vacinas. O deputado recebeu novos
apelos para agir, mas estava mais preocupado em pedir votos para o aliado
Baleia Rossi.
Ao
vociferar no domingo, Maia já havia perdido o controle da eleição da Câmara. A
abertura do impeachment era um imperativo ético, mas seria reduzida a um ato de
vingança. Que seria anulado rapidamente por seu sucessor, ansioso para mostrar
serviço ao Planalto.
A frente ampla de Baleia Rossi encalhou na praia, mas produziu cenas inusitadas na eleição da Câmara.
Ex-líder
do governo Bolsonaro, a deputada Joice Hasselmann foi aplaudida por deputados
do PT ao chegar ao Congresso.
Eleita
com um discurso feroz contra o ex-presidente Lula, ela rompeu com o Planalto e
se aliou à esquerda na sucessão de Rodrigo Maia. Quase foi chamada de
companheira.
Depois
da recepção calorosa, Joice travou um animado bate-papo com a deputada Jandira
Feghali, do PCdoB.
O
tema da conversa foi a dieta que mudou a silhueta da ex-bolsonarista. Ela
contou que perdeu 20 quilos em pouco mais de cinco meses.
Apesar
das novas companhias, Joice se manteve fiel ao capitão em ao menos uma coisa.
Ela chegou à Câmara sem máscara, e assim continuou ao confraternizar com os
petistas.
Em tempo: no fim da noite, a deputada esqueceu o apoio a Baleia e participou da festa da vitória de Arthur Lira, o candidato do Planalto.
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