Dominado
por Jair Bolsonaro e Centrão, o ambiente político é irreversivelmente estéril
É
com profundo sentimento de pesar que se anuncia o fim dos tempos. Sejam das
reformas, da rotina política ou tudo o mais que tenha vida ou inspire
esperança. Inclusive as soluções para o grande desafio da pandemia.
O
ambiente político, dominado por Jair
Bolsonaro e Centrão,
é irreversivelmente estéril. Sem espaço para avanços ou reformas. Nem a
administrativa (como enquadrar o funcionalismo com rigor em meio ao
vale-tudo?); nem privatizações (conseguirão vender empresas por eles
loteadas?); ou reforma tributária (é lícito perder receita para um projeto
liberal que não existe?).
O Congresso renunciou à sua agenda própria. Enfraquecido, dividido e sob nova direção, restou ao Parlamento submeter-se à agenda do Executivo.
O
governo, também fragilizado, não consegue adesões, sequer internamente, para
suas propostas. O ministro Paulo Guedes é
satélite e está estacionado há tempos. Seu anunciado pacote econômico não tem
respaldo nem do próprio presidente.
A
sucessão na Câmara e no Senado esgotou qualquer capacidade de ação coletiva.
Nada se pode esperar além da aprovação de um orçamento caviloso e da
indispensável bolsa social de sobrevivência no caos.
A
lei é a do mercado persa. Vale tudo para vender.
Como nos versos da Quadrilha do poeta Drummond, o círculo é vicioso. Os elos, porém, não são de amor, mas de oportunismo.
Parlamentares
negociam o mandato para fazer caixa eleitoral e alimentar sua campanha de
reeleição. É só o que interessa nesses dois anos finais da legislatura. Com os
bolsos cheios, fidelizam prefeitos. Uma vez reeleitos, voltam à boca do caixa e
começam a vender tudo de novo. E assim sucessivamente: Jair paga a Arthur, que
sacia o bando, que transfere ao prefeito, que elege o deputado, que vende seu
voto ao governo, que financia a campanha.
Bolsonaro
adquiriu com o Centrão o primeiro estágio do projeto da própria reeleição, além
de miudezas do seu passivo judicial. Como, por exemplo, o engavetamento do
impeachment e a suspensão das CPIs, a das Fake News e a dos crimes de gestão da
pandemia.
Numa
operação triangular, o Congresso pode ter levado de volta ao estoque um produto
encalhado, a CPI da Toga. Quem sabe não conseguirá empacotar junto o comando
dos três poderes para quitar sua fatura?
No
varejo, há vistosos produtos de safra, indiferentes para o Centrão, mas que
valem ouro no Palácio do Planalto. O armamentismo, por exemplo, é um. A macabra
licença para matar, outro.
Os
brasileiros não estão preocupados com os destinos de Rodrigo Maia,
com a sorte de Simone Tebet, ou o sucesso de um futuro projeto democrático à
sucessão presidencial. Para isso há tempo.
Tebet
foi derrotada por ser candidata da Lava Jato. O deputado Rodrigo Maia perdeu na
rasteira habitual de ACM Neto. Pedra cantada há duas semanas: Neto foi visto em
festa com Bolsonaro num palanque entre Alagoas e Sergipe, em inauguração da
ponte de Propriá. A Bahia, ausente do fato, estava na foto.
Neto
já se opusera à primeira disputa da presidência da Câmara por Maia. Quando
apoiou o candidato do então presidente Temer, Rogério Rosso, sentenciou sua
filosofia: em eleição para presidente da Câmara não se fica, jamais, contra o
candidato do presidente da República.
Além
do mais, sua disputa pessoal com Maia é antiga e nos últimos anos a balança
pendeu para o presidente da Câmara. Chegou ao momento de decisão. Ao destruir
Maia, o demista baiano fez uma opção oportuna pensando no seu futuro. Quem sabe
a associação Bolsonaro-Lira não representará sua bala de prata na próxima
batalha com o PT, que, por acaso, tem na Bahia sua base estadual mais sólida?
Já aos brasileiros em geral sobra o bizarro desafio de apreciar a fusão das táticas milicianas do governo Bolsonaro com a súbita aparição de um novo protagonista alagoano.
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