Quem
pode preencher esse vácuo é uma mulher, empresária, colecionadora de êxitos,
com o pé no chão e defensora de boas causas
Se
parece pato, anda como pato e grasna como pato, pato é. Se o novo ministro da
Cidadania, João Roma,
fez toda a sua carreira no DEM, colado em ACM Neto e era seu chefe de
gabinete, ACM Neto ele
é. Jura que foi parar no colo do presidente Jair Bolsonaro pelo
Republicanos e por Marcos Pereira, ninguém acredita. Depois de Sérgio Moro, em 2019, o
maior troféu de Bolsonaro é ACM Neto, que perde o status de uma das grandes
promessas nacionais e arrasta junto o DEM.
Além
de, novamente, garantir mais
armas e mais balas para civis, Bolsonaro está soltando fogos. O
Centrão transformou o Congresso em puxadinho do Planalto e o DEM cala Rodrigo Maia, voz decisiva
da resistência ao autoritarismo e ao atraso, imobiliza Luciano Huck, obrigado a
procurar outra sigla, e desarticula uma saída da catástrofe pelo centro – que
está descambando para a extrema direita.
Num movimento combinado, o PSDB segue o desastre do DEM, como um piloto que, em meio a forte tempestade, entra em estado de desorientação espacial. Trancado na cabine (no caso, na bolha), não enxerga nada à frente, não sabe mais se está subindo ou descendo e acelera até se esborrachar no solo logo ali. É mesmo estonteante o DEM e o PSDB elegerem João Doria e Maia como inimigos prioritários.
É
hora de atacar Doria? Goste-se ou não dele, e muita gente não gosta, ele é
governador do principal Estado do País, ocupa a mais importante vitrine
nacional dos tucanos e merece aplausos pela visão, diligência e decisão ao providenciar
as vacinas. Com legitimidade, fazia uma dupla fundamental com Rodrigo Maia para
dizer “não” a investidas golpistas e medidas retrógradas.
O
que seria do Brasil sem as “vacinas chinesas do Doria”? Em fevereiro, teríamos
dois milhões de doses para 210 milhões de habitantes, com 9,8 milhões de
contaminados, 238 mil mortos e novas variantes mais ameaçadoras, enquanto o
presidente insiste no “e daí?”. E, sem Maia na Câmara e Doria no PSDB de São
Paulo, quem dará voz e cara à oposição? Bolsonaro torce para Lula e Fernando
Haddad.
O
tucano Eduardo
Leite, governador do Rio Grande do Sul, tem lá suas qualidades, mas
não pode ser séria a articulação do seu nome para a Presidência. Muito jovem,
está no primeiro mandato relevante, num Estado que se especializou em torrar
seus quadros políticos e nunca reelegeu um único governador. Logo, a caravana
tucana pode tê-lo convencido, mas a ninguém mais.
Chutar Doria para pôr Leite no lugar tem cara de blefe, para dissimular uma outra jogada: a aproximação com Bolsonaro. Consolida, assim, a análise de que o melhor que pode acontecer ao PSDB é pôr ponto final na sua bela história, antes de um triste fim - que pode estar perto. Depois do ministro de ACM Neto, Bolsonaro busca nomes vistosos do PSDB e do MDB para o governo.
Com PSDB e DEM se autodestroçando, Bolsonaro corre sozinho, cada vez mais lépido, fagueiro, sem noção e sem escrúpulos, sustentado por Forças Armadas, polícias, milícias, os reinos de Deus, Centrão, Congresso e “oposição”. Não pensem o PT e a esquerda que isso é bom para Lula, Haddad ou quem quer que seja. Na implosão do centro, a debandada é para Bolsonaro.
Doria, Huck, Moro e Luiz Henrique Mandetta são torpedeados antes de alçar voo, mas, como não há vácuo em política, quem pode preencher esse vácuo é uma mulher, empresária, colecionadora de êxitos, com o pé no chão e defensora de boas causas, como cotas, vacinas, menos ideologia e mais resultados. Sim, Luiza Trajano, sem partido e sem traquejo político, mas instada a botar o bloco na rua e, num carnaval tão atípico, animar e atrair um grande aliado de Bolsonaro: o eleitor desiludido, ou desesperado, que só vê o buraco aumentando.
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