Julia
Lindner / O Globo
BRASÍLIA
- O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou, em entrevista ao GLOBO, que seu
partido, assim como os demais, foi “triturado” durante a eleição para as
presidências da Câmara e do Senado e agora tem a oportunidade de se
reconstruir.
Para
ele, o melhor nome para disputar a eleição de 2022 será aquele que conseguir
unir as legendas de centro, da esquerda à direita, a fim de evitar a
polarização como a que ocorreu no segundo turno do último pleito, entre Jair
Bolsonaro e petista Fernando Haddad.
Como o
senhor avalia o cenário atual do PSDB? O partido está rachado?
O
PSDB está num momento de transição, de reconstrução, procurando manter os seus
princípios iniciais e fundamentais. Ao mesmo tempo, esse período agora é
diferente, em que todos os partidos, todos, foram triturados ou tratorados pelo
processo eleitoral de Senado e Câmara. Em uma olhada panorâmica, o DEM rachou,
PSDB trincou, PSD teve problemas... Isso porque o processo que se instalou nas
duas Casas do Congresso foi na base da captação de votos individual.
Sempre
teve isso, mas os partidos também tinham um grande peso. Agora os partidos
foram ignorados como se não existissem. Isso fez com que pessoas, de
bolsonaristas a petistas, votassem nos mesmos candidatos. Essa questão de não
haver uma coesão absurda não é privilégio do PSDB, todos os partidos estão
vivendo problemas.
É
possível encontrar uma saída?
É
um bom momento para o PSDB se reconstruir, estávamos vivendo isso... Tínhamos uma
candidatura natural (à Presidência da República) do governador de São Paulo
(João Doria), que só pelo fato de ser governador de São Paulo já o torna
presidenciável, e se abre uma nova perspectiva trazendo ao cenário mais um
outro candidato de uma parcela do PSDB, o Eduardo Leite (RS), que traz uma
perspectiva extremamente democrática para voltarmos às discussões dos nossos
ideais, dos nossos princípios. E vai prevalecer aquele que se identificar mais
com esses princípios. Tem que ser um princípio que junte mais os partidos de
centro.
Considerando
os nomes de Doria e Leite, qual deles tem o melhor perfil hoje para unificar o
centro? Avalia que Doria tenderia mais para a direita do que para o centro?
Eu
acho que antes de definirmos o nome, temos que definir o que queremos. Estamos
vivendo um momento que, além dos partidos, vivemos uma crise de valores, uma
crise sanitária, econômica e social. Então, eu acho que aquele que tiver
capacidade de unir desde o centro mais à direita até o mais à esquerda, com o
propósito de acabar a polarização em que (entre) a extremíssima esquerda e a
extremíssima direita, o ódio é que está prevalecendo... Esse que tiver mais capacidade
de fazer essa união será o candidato ideal.
Mas ainda não está na hora de definir (um nome), e sim o que queremos e conversar com outros partidos, inclusive com a possibilidade de aparecer outro nome com poder de agregação.
O senhor
vê Luciano Huck com uma dessas alternativas?
Tem
essa possibilidade. Não estou dizendo que seja ele, estou colocando. É um rapaz
novo, não vejo problema no fato de não ser político, existem vantagens e
desvantagens. Ele tem feito um esforço enorme de aprender, captar soluções e
ideias que estão pairando pelo mundo. É um rapaz de centro.
A
situação na Câmara e no Senado mostrou a bancada dividida e em parte apoiando o
nome de Bolsonaro à presidência das Casas. Não é um sinal de que é difícil unir
o partido e fazer oposição?
Essa
definição de oposição em relação ao governo está tomada. É uma definição que
está sendo reforçada com a ratificação do nome de Bruno Araújo (ao comando do
PSDB). A diferença que houve durante as eleições não é um desafio só nosso, e
sim de todos os partidos e democratas. Houve uma manipulação profunda que
dizimou a unidade dos partidos.
O PSDB
tem um alinhamento na área econômica com o governo. Como fazer essa
diferenciação em relação a outras pautas?
Olhando
em uma visão geral nós temos, sim, uma identidade muito grande, não total, na
área econômica, mas nas outras questões temos uma distância enorme. Se for para
falar de política externa, é o oposto da apresentada pelo ministro de Relações
Exteriores, que é incompreensível. Se formos falar de tendência ao
autoritarismo, somos um partido que nasceu da redemocratização. Enfrentamento
da pandemia, coronavírus e Ministério da Saúde... É um desastre que chega a ser
quase criminoso. As coisas que aconteceram e estão acontecendo beiram a
irresponsabilidade total.
A
nossa identidade é nessa questão da pauta econômica mais liberal, porém não é
100%. Nada nos impede quando as pautas econômicas chegam no Congresso de
apoiarmos o governo. Fomos oposição ao (ex-presidente) Lula e à (ex-presidente)
Dilma e nunca fizemos o quanto pior melhor. Se vier, por exemplo, uma proposta
muito boa para a Saúde vamos aprovar.
Pensando
em 2022, o senhor teme um cenário como o da última eleição, com Bolsonaro e o
candidato do PT no segundo turno? Isso colocaria o PSDB numa situação difícil?
O
Bolsonaro ganhou as eleições porque havia um forte sentimento antipetista na
população brasileira. Eu costumo dizer que o Bolsonaro nasceu do PT. Quando o
PT começou a dividir o Brasil entre nós e eles, dividiu o Brasil e acabou
levando para a radicalização. Isso se transformou na extrema direita. Isso
(cenário de 2018) só vai se repetir se nós, do centro, centro-direita,
centro-esquerda, formos muito divididos novamente para a eleição. Porque você
tem um nicho certo de eleitores na extrema esquerda e na extrema direita.
Se
esse centro que é a maioria ficar todo subdividido, pode ser, como aconteceu,
que a subdivisão leve a uma reedição de uma maneira piorada dessa polarização
que só gerou ódio, dividiu a população. As pessoas não querem saber de
argumentos. Tenho grande esperança de que possamos construir uma candidatura de
centro mais sólida.
Como o
senhor vê a sinalização, por exemplo, do ACM Neto não descartar um apoio a
Bolsonaro lá na frente?
Eu
acredito que o Neto disse isso mais como uma figura de linguagem, tipo “não
estou descartando algum cenário”. Porque todas as vezes em que eu conversei com
ele, além de negar de maneira muito veemente qualquer aproximação com
Bolsonaro, não é da índole dele, da criação dele, qualquer aliança maior com um
governo com esses defeitos.
O senhor
falou do antipetismo. Avalia que a oposição do PSDB ao PT e especialmente a
postura na eleição de 2014 de questionar o resultado contribuiu para esse
ambiente?
Não
foi nem a oposição do PSDB ao PT. Quando o PT fez o ‘nós e eles’ visou
principalmente o PSDB, demonizou os nossos governos, neoliberalistas, os nossos
candidatos, todo o primeiro governo do Lula tinha o negócio da herança maldita.
Tudo era feito para demonizar o PSDB. Isso fez com que os eleitores do PSDB
acabassem nas mãos da extrema direita, que criou o Bolsonaro.
Aécio
Neves (MG) influênciou na eleição da Câmara no apoio ao candidato de Bolsonaro.
A permanência dele atrapalha a imagem do PSDB?
Esse
assunto está morto. O Aécio não está influindo, está calado lá. Ele não é mais
uma liderança do partido, não tem relevância dentro das discussões. É um
assunto morto e não tem por que abrir essa ferida. Temos outros assuntos tão
importantes agora que isso seria sair do foco.
O que
achou das explicações de Eduardo Pazuello ao Congresso? Ainda vê necessidade da
CPI da Covid?
A
grande maioria do PSDB assinou a CPI da Pandemia e estamos defendendo
principalmente depois do depoimento do ministro da Saúde, que não respondeu as
questões fundamentais. Alguém de governo tem que ser responsabilizado para que
isso não volte a se repetir.
A
situação em Manaus evidenciou mais a crítica que se faz ao governo na pandemia?
Claro. Aquilo foi um caos, um conjunto de crimes em relação à total falta de sensibilidade com o que estava acontecendo em Manaus, pessoas morrendo asfixiadas no meio da rua e o governo distribuindo cloroquina. E não só em Manaus. Cidades estão parando de vacinar por falta de vacina. É um conjunto de crimes, e alguém precisa ser responsável por isso. Não é possível que centenas de milhares venham a falecer e essa negligência fique impune. Até para que não volte a acontecer.
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