CPI
é sempre um suplício para qualquer governo
Rodrigo
Pacheco, mineiro sem sotaque nascido em Rondônia, há 12 dias presidente do
Senado, enfrentará na próxima quinta-feira dois compromissos incômodos. O
primeiro: recepcionar seu colega de DEM, o senador Chico Rodrigues, que em
outubro passado licenciou-se do mandato por 121 dias. O segundo: decidir se
instala ou não a CPI da Pandemia requerida pela oposição.
Será
mais fácil para Pacheco riscar de sua agenda o primeiro compromisso do que o
segundo. Chico Rodrigues licenciou-se depois de preso pela Polícia Federal
escondendo pouco mais de 33 mil reais dentro da cueca – parte deles entre as
nádegas, vejam só. A licença serviu para que ele driblasse o risco de ser
processado por quebra de decoro parlamentar.
Não era lá um grande risco – os colegas estavam dispostos a protegê-lo e o Conselho de Ética do Senado está desativado há mais de um ano. Mas era aconselhável que ele saísse de cena para esfriar o escândalo. Tudo passa, passará, a memória coletiva é fraca, e são tantos os casos de políticos envolvidos com corrupção que um a mais ou a menos não fará diferença.
Se
tivesse dependido unicamente de Rodrigues, não haveria licença. Jurou ser
inocente e achou que isso bastava. A haver licença, de início concordou que
fosse por 90 dias. Ao descobrir, porém, que o afastamento por até 120 dias
dispensa a posse do suplente, licenciou-se por 121 dias – e assim o suplente
ocupou seu lugar com direito a salário e tudo mais. O suplente era seu filho.
O
segundo compromisso de Pacheco é impostergável. O pedido da CPI da Pandemia foi
assinado por 32 senadores – cinco a mais do que o mínimo necessário. Pacheco
deu tempo ao governo para convencer quem quisesse a retirar sua assinatura.
Aconselhou ao presidente Jair Bolsonaro que mandasse o ministro Eduardo
Pazuello, da Saúde, explicar-se em sessão do Senado.
Foi
um vexame – para o governo e para o ministro. A sessão durou cinco horas.
Pazuello entrou no Senado com um tamanho de médio para baixo e conseguiu sair
menor. Em certo momento, chegou a falar grosso como um general a dar ordens a
cadetes indisciplinados. Desculpou-se em seguida. Acabou enquadrado por alguns
senadores que reduziram a pó suas explicações furadas.
CPI
é um caso sério. Políticos experientes costumam repetir que se sabe como começa
uma CPI, mas nunca como termina. É por isso que governos de todas as cores
pagam caro para abortar CPIs. Pagam pela retirada de assinaturas, pagam para
indicar os integrantes da comissão, pagam para que não lhes criem embaraços,
pagam por um relatório final que dê em nada.
E mesmo assim, sentem-se inseguros por meses a fio. É um verdadeiro suplício.
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