Carolina
Macário, Especial para O GLOBO
SÃO
FRANCISCO DO SUL (SC) — Enquanto uma das principais cidades de Santa Catarina,
Chapecó, enfrenta o colapso no sistema de saúde em razão da pandemia do novo
coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro causou aglomerações durante todos os
dias de folga pelo litoral do Estado. O feriadão de carnaval — cancelado em
todas as capitais do país para evitar a propagação do vírus — teve passeios de
moto aquática, pesca num cenário paradisíaco e desrespeito à Lei 14.019, que
desde julho de 2020 tornou obrigatório o uso de máscaras em espaços públicos.
Desde
sábado, o chefe do Executivo está hospedado no Forte Marechal Luz, uma colônia
de férias para militares no município de São Francisco do Sul, no litoral
norte. Ele chegou acompanhado de um séquito de políticos e amigos, entre eles o
deputado federal Helio Lopes (PSL-RJ) e o secretário Nacional de Aquicultura e
a Pesca, Jorge Seif. Veio também parte da família: a filha caçula, Laura, e o
filho 03, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além da mulher e filha
de Eduardo. Eles retornam hoje a Brasília.
Tanto
o presidente quanto os amigos e políticos que o acompanharam não usaram
máscaras de proteção. Nem mesmo a equipe responsável pela segurança. Na
segunda-feira, quando passeou de moto aquática por diferentes enseadas de São
Francisco do Sul, tirou fotos e distribuiu cumprimentos, pegou crianças no colo
e conversou com idosos aglomerados a cada parada na beira da praia. O roteiro
pela região foi amplamente documentado por Eduardo Bolsonaro em suas redes
sociais.
O momento, no entanto, é de gravidade no estado. Santa Catarina tem atualmente 12 regiões em risco gravíssimo da Covid-19, segundo a Secretaria de Saúde do Estado. Questionado se tinha conhecimento da situação, o mandatário disse ter falado por telefone com o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), e também que pediu ao Ministério da Saúde para dar atenção à cidade. Na sequência, voltou a defender o tratamento precoce:
— O ideal é não haver entubamento (sic). Agora os médicos devem ter o direito, sem pressão, de exercer a sua liberdade de receitar algo, para uma doença, no caso, off-label, sem estar prescrito em bula. Porque é uma doença que ainda não tem remédio definido.
Spray
nasal
Em
transmissões ao vivo feitas ao longo do feriadão pelo filho 03, Bolsonaro
também anunciou que a Anvisa analisaria, em breve, um pedido para uso
emergencial do EXO-CD24, um spray nasal desenvolvido pelo Centro Médico
Ichilov, de Israel, para tratamento da Covid. Esse medicamento foi testado
inicialmente para tratamento de câncer e passou pela primeira fase da pesquisa.
Embora tenha tido resultados promissores contra a Covid, os especialistas que
conduziram os testes afirmaram que apenas a fase 1 foi concluída e que mais
evidências e estudos são necessários para confirmar a eficácia.
Sobre o cronograma nacional de vacinação e a morosidade do processo no país, o presidente afirmou que “no mundo todo está faltando vacina. Não tem no mercado, está em falta”. Disse ainda que “uma vez a Anvisa liberando, compraria. Tanto que eu tenho, entre aspas, um cheque em branco de R$ 20 bilhões para comprar vacina, de uma medida que eu assinei em dezembro do ano passado.”
Ao
longo de todo o feriadão, Bolsonaro evitou a imprensa. No sábado, assim que
chegou à cidade, ficou irritado quando questionado sobre o auxílio emergencial
e atacou governadores: “Quem foi que tirou o teu emprego? Pergunta para o
governador. Quem fechou tudo? Quem foi que fechou o comércio, fui eu ou foi o
governador. Estou te perguntando: quem foi que fechou?” Já na segunda, único
dia que falou com jornalistas, disse ter conversado com a equipe econômica e
com os presidentes da Câmara e do Senado sobre o assunto:
— Por três, quatro meses vai voltar. Valores não sabemos. Não adianta alguém falar. Tem que procurar no orçamento. Não tem. Tem que conseguir um endividamento, como fizemos no ano passado para os nove meses que concedemos o auxílio.
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