Marcelo Rocha, Renato Machado, Ricardo Della Coletta / Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), mandou prender em flagrante, na noite desta terça-feira (16), o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ).
Silveira
é alvo de dois inquéritos na corte —um apura atos antidemocráticos e
o outro, fake news.
Moraes é relator de ambos os casos, e a ordem de prisão contra o deputado
bolsonarista foi expedida na investigação sobre notícias falsas.
Nesta
terça, Silveira publicou na internet um vídeo com ataques a ministros do
Supremo. Ao ser preso, voltou às redes sociais: "Polícia Federal na minha
casa neste exato momento com ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre
de Moraes".
Pouco
depois, o parlamentar postou um vídeo: "Neste momento, 23 horas e 19
minutos, Polícia Federal aqui na minha casa, estão ali na minha sala".
"Ministro
[Alexandre de Moraes], eu quero que você saiba que você está entrando numa
queda de braço que você não pode vencer. Não adianta você tentar me
calar", afirmou.
Silveira
foi preso em Petrópolis (RJ) e seria encaminhado à Superintendência da PF no
Rio de Janeiro, no centro da capital fluminense.
A ordem de Moraes é uma decisão liminar (provisória). Por isso, será submetida aos demais ministros da corte. O presidente do STF, ministro Luiz Fux, pretende levar o caso ao plenário nesta quarta-feira (17).
A
prisão é em flagrante e inafiançável. Ela também deverá ser avaliada pelos
deputados e será levada à confirmação pela Câmara, em plenário. Os deputados
podem derrubar a ordem, com quórum de maioria simples.
Moraes
já determinou que o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), seja comunicado
sobre o caso para a adoação das providências cabíveis.
O ministro-relator no
STF também determinou que o YouTube seja comunicado para providenciar o
imediato bloqueio do vídeo em que Silveira ataca a corte, sob pena de multa
diária de R$ 100 mil. A PF deverá preservar o conteúdo da gravação.
"As
manifestações do parlamentar Daniel Silveira, por meio das redes sociais,
revelam-se gravíssimas, pois, não só atingem a honorabilidade e constituem
ameaça ilegal à segurança dos ministros do Supremo Tribunal Federal, como se
revestem de claro intuito visando a impedir o exercício da judicatura",
afirmou Moraes na decisão.
"O
autor [Silveira] das condutas é reiterante na prática criminosa, pois está
sendo investigado
em inquérito policial nesta corte, a pedido da PGR [Procuradoria-Geral da
República], por ter se associado com o intuito de modificar o regime
vigente e o Estado de Direito."
O
ministro afirmou ainda que "medidas enérgicas" são necessárias para
para impedir a perpetuação da "atuação criminosa" do parlamentar
"visando lesar ou expor a perigo de lesão a independência dos Poderes
constituídos e o Estado democrático de Direito".
De
acordo com a decisão, chegou ao conhecimento do STF nesta terça o vídeo
publicado pelo deputado em que ele "durante 19 minutos e 9 segundos, além
de atacar frontalmente os ministros do Supremo Tribunal Federal, por meio de
diversas ameaças e ofensas à honra, expressamente propaga a adoção de medidas
antidemocráticas contra o Supremo Tribunal Federal, defendendo o AI-5".
O
Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968, marcou o recrudescimento da
repressão na ditadura militar no Brasil.
Moraes
diz ainda que Silveira defendeu "a substituição imediata de todos os
ministros [do STF]" e instigou "a adoção de medidas violentas contra
a vida e segurança dos mesmos, em clara afronta aos princípios democráticos,
republicanos e da separação de Poderes".
O
deputado comenta no vídeo a
manifestação do ministro Edson Fachin, que havia criticado na
segunda-feira (15) a tentativa de interferência de militares no Poder
Judiciário.
A
fala do ministro do STF se deu após divulgação de trecho de livro na qual o
ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas relata que discutiu com Alto Comando
da Força uma postagem, que muitos consideraram uma ameaça, às vésperas do
julgamento de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em
2018.
Fachin
disse que era "intolerável e inaceitável qualquer tipo de pressão
injurídica sobre o Poder Judiciário". Nesta terça, Villas Bôas, em rede
social, ironizou o
ministro: "Três anos depois".
Também
em uma rede social, Gilmar Mendes, do STF, reagiu. Ele afirmou que "a
harmonia institucional e o respeito à separação dos Poderes são valores
fundamentais da nossa república". "Ao deboche daqueles que deveriam
dar o exemplo responda-se com firmeza e senso histórico: Ditadura nunca
mais!", escreveu.
Na
filmagem que levou à sua prisão, Silveira usa palavras de baixo calão contra
Fachin e outros ministros do Supremo, acusa-os de vender sentenças e sugere
agredi-los.
"Hoje
você se sente ofendidinho, dizendo que é pressão sobre o Judiciário, é
inaceitável. Vá lá, prende
Villas Bôas. Seja homem uma vez na tua vida, vai lá e prende Villas Bôas. Seja
homem uma vez na tua vida, vai lá e prende Villas Bôas. Fala pro Alexandre de
Moraes, o homenzão, o fodão, vai lá e manda ele prender o Villas Bôas."
O
deputado segue com as ofensas: "Vai lá e prende um general do Exército. Eu
quero ver, Fachin. Você, Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello, Gilmar
Mendes, o que solta os bandidos o tempo todo. Toda hora dá um habeas corpus,
vende um habeas corpus, vende sentenças", afirmou.
Silveira
também afirma que Fachin é "moleque, mimado, mau caráter, marginal da
lei" e depois acrescenta que é "vagabundo, cretino e canalha". O
deputado bolsonarista também fala que o ministro é a "nata da bosta do
STF".
Em
relação a Moraes, deputado chama o ministro de "Xandão do PCC" em
alusão à facção criminosa Primeiro Comando da Capital. Disse também que Luís
Roberto Barroso "gosta de culhão roxo" e, ao falar de Gilmar, fez um
sinal com os dedos indicando dinheiro.
O
parlamentar diz ainda que Fachin é militante do PT e de partidos e nações
"narcoditadoras".
"Foi
aí levado ao cargo de ministro porque um presidente socialista resolveu
colocá-lo na Suprema Corte para que ele proteja o arcabouço do crime no Brasil,
que é a Suprema, a nossa Suprema, que de suprema nada tem."
Silveira
também diz que já imaginou por várias vezes Fachin e os outros ministros do STF
"levando uma surra".
"Por
várias e várias vezes já te imaginei levando uma surra. Quantas vezes eu
imaginei você e todos os integrantes dessa corte aí. Quantas vezes eu imaginei
você, na rua levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a
violência? Não, só imaginei", afirma o parlamentar no vídeo.
"Ainda
que eu premeditasse, ainda assim não seria crime, você sabe que não seria
crime. Você é um jurista pífio, mas sabe que esse mínimo é previsível. Então
qualquer cidadão que conjecturar uma surra bem dada nessa sua cara com um gato
morto até ele miar, de preferência após a refeição, não é crime."
Após
fazer referência ao AI-5, Silveira ofende com palavras de baixo calão os
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT.
"Você
lembra, você era militante do PT, do Partido Comunista, você era militante da
Aliança do Brasil, militante idiotizado, lobotomizado, que atacava militares,
junto com a Dilma, aquela ladra vagabunda, com o multicriminoso Luiz Inácio
Lula da Silva."
O
deputado federal depois volta a atacar o Supremo, defendendo a destituição dos
ministros.
"Suprema
Corte é o cacete. Na minha opinião vocês [ministros do STF] já deveriam ter
sido destituídos do posto de vocês e uma nova nomeação convocada e feita de 11
novos ministros. Vocês nunca mereceram estar aí. E vários que já passaram também
não mereciam. Vocês são intragáveis, inaceitável, intolerável, Fachin",
afirma.
"Não
é nenhum tipo de pressão sobre o Judiciário não, porque o Judiciário tem feito
uma sucessão de merdas no Brasil. E, quando chega em cima, na Suprema Corte,
vocês terminam de cagar a porra toda, é isso que vocês fazem: endossam a
merda", completa.
Silveira
segue atacando o Supremo, afirmando que os ministros poderiam ser retirados do
cargo por "aposentadoria, por pressão popular, ou seja lá o que for".
O
deputado comentou em suas redes sociais sua prisão, afirmando que ser detido
nessas circunstância seria um "motivo de orgulho".
"Aos
esquerdistas que estão comemorando, relaxem, tenho imunidade material. Só vou
dormir fora de casa e provar para o Brasil quem são os ministros dessa Suprema
Corte. Ser 'preso' sob estas circunstâncias, é motivo de orgulho",
escreveu.
O bolsonarista é o mesmo que quebrou uma placa com o nome da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no Rio de Janeiro, em 2018.
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