O carnaval foi cancelado, mas o Supremo manteve viva a tradição do baile de máscaras. Na terça-feira gorda, o ministro Gilmar Mendes voltou a se exibir em nova fantasia. Ex-integrante do Bloco da Lava-Jato, ele agora desfila na ala dos críticos da operação.
Em
entrevista à BBC News Brasil, Gilmar disse que a força-tarefa de Curitiba virou
“movimento político” e “tinha candidato” na última eleição presidencial. Faz
sentido, mas parece que ele demorou a notar.
Por
muito tempo, o ministro elogiou os métodos de Moro, Dallagnol & cia. Em
setembro de 2015, ele disse que a operação salvou o Brasil de virar uma
“cleptocracia”. “A Lava-Jato estragou tudo”, comemorou.
Seis meses depois, Gilmar barrou a nomeação de Lula para a Casa Civil com base num grampo divulgado ilegalmente por Moro. A liminar invadiu atribuição do Executivo e deu o empurrão final para o impeachment.
Consumada
a queda de Dilma Rousseff, o ministro passou a enxergar abusos na Lava-Jato. Em
entrevista recente, ele apontou um “jogo de promiscuidade” entre juiz e
procuradores. Curiosamente, não viu problema em seus 43 telefonemas com Aécio
Neves quando o tucano era investigado por corrupção.
Com
a fantasia de garantista, Gilmar reciclou a imagem e virou herói de setores da
esquerda. A amnésia faz parte da folia, mas a Lava-Jato é a mesma de outros
carnavais. Quem mudou foi o supremo ministro.
Na
segunda-feira, Edson Fachin brilhou como destaque no baile de máscaras. Em
nota, ele afirmou que a pressão de militares sobre o Supremo é “intolerável e
inaceitável”. O ministro tem razão, mas está atrasado.
Quando
o general Villas Bôas emparedou o tribunal com uma ameaça de golpe, às vésperas
da eleição de 2018, Fachin silenciou. Quase três anos depois, desperta para a
interferência “gravíssima” dos quartéis.
A esta altura, o protesto não tem qualquer efeito prático. Só serve como tentativa de retocar a biografia do ministro. Ainda assim, ele virou alvo de novo deboche do general
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