Por
anos, operação usou métodos questionados pelo tribunal sem ser incomodada
Num
voto de 102 páginas, Gilmar Mendes disse que a força-tarefa da Lava Jato
criou "o maior escândalo judicial" do país. O Supremo conhece há
tempos os métodos da operação, mas só se dispôs a passar a história a limpo
agora, sete anos depois que a investigação começou.
As
últimas 48 horas dão pistas dos motivos do atraso. A manobra de Edson Fachin
para evitar o julgamento da suspeição de Sergio Moro reflete a covardia do
tribunal na hora de enfrentar os fantasmas da operação. Já o movimento de
Gilmar ao reabrir uma ação que dormiu em sua gaveta por dois anos é um exemplo
dos desvios da política interna da corte.
A
estratégia de Fachin só pode ter como base a convicção de que o STF aceitaria
uma decisão de alta relevância como artimanha para enterrar outro tema
espinhoso. Com tudo o que se sabe atualmente sobre a operação, parte dos
ministros ainda se recusa a esmiuçar a atuação da Lava Jato e de seus
personagens.
O
segundo capítulo ocorreu na terça (9), quando Gilmar reabriu o julgamento da
ação que contesta o trabalho de Moro. Desde 2018, o ministro dava sinais de que
era favorável à defesa do ex-presidente, mas segurou o voto por temer uma
derrota.
A
mudança na composição da Segunda Turma, a revelação das mensagens da Lava Jato
pelo site The Intercept Brasil e a trama de Fachin mudaram o ambiente. Gilmar
citou a condução coercitiva de Lula para dizer que a operação tinha um
"modelo hediondo" e chamou a quebra de sigilo de advogados do petista
de "coisa de regime totalitário".
Os adjetivos encobrem o fato de que Moro tomou aquelas decisões em 2016, à luz do dia, e demorou a ser incomodado pelos tribunais. Teve tempo para continuar os processos e virou até ministro da Justiça.
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