A
anulação das sentenças de Sergio Moro recoloca Lula no centro da corrida ao
Planalto. É um lugar que ele ocupa desde 1989, quando os brasileiros
recuperaram o direito de votar para presidente.
Lula
perdeu três eleições, venceu outras duas e foi impedido de concorrer pela sexta
vez em 2018. A um mês e meio das urnas, ele liderava a disputa com 39% das
intenções de voto. O segundo colocado, Jair Bolsonaro, aparecia com 19% no
Datafolha.
Nove
dias depois, o Tribunal Superior Eleitoral barrou a candidatura do petista com
base na Lei da Ficha Limpa. Bolsonaro assumiu a ponta e se elegeu com o pé nas
costas, sem ir a debates e sem apresentar um plano de governo.
Nesta segunda-feira, o Supremo reconheceu que a condenação que afastou Lula das urnas foi irregular. O ex-presidente saiu do jogo pela caneta de um juiz que não tinha competência legal para julgá-lo.
Assim
que a eleição terminou, o doutor abandonou a toga e se juntou à equipe do
candidato vencedor. Sua adesão ao governo escancarou a utilização da Justiça
como instrumento de um projeto de poder.
Ontem
o ministro Gilmar Mendes perguntou qual país democrático aceitaria como
ministro da Justiça o ex-juiz que afastou o principal adversário do presidente
eleito. O Brasil aceitou.
A
anulação das sentenças de Moro não repara o que ocorreu em 2018, mas abre
caminho para uma eleição com menos interferência judicial em 2022. É uma boa
notícia para uma democracia ameaçada por surtos autoritários.
A
volta de Lula ao palanque ainda inspira muitas dúvidas. A primeira é se o
ex-presidente vai endurecer o discurso ou retomar o figurino conciliador que o
levou ao poder. A segunda é se ainda haverá espaço para uma candidatura
competitiva na geleia geral que se intitula como “centro”.
Por
enquanto, o único fato concreto é que Bolsonaro ganhou um adversário forte.
Pesquisa divulgada no domingo pelo Ipec mostrou que o ex-presidente é, neste
momento, o único político a superar o capitão em potencial de votos para 2022.
Quem embarcar na tese de que a candidatura Lula ajuda Bolsonaro arrisca comprar gato por lebre — ou pagar por vacina e levar cloroquina.
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