O
presidente e seu labirinto
O
que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal não é se há provas ou não de
que Lula roubou
e deixou que roubassem enquanto foi presidente da República. Isso já foi
julgado na primeira, na segunda e na terceira instâncias da justiça que
concluíram que sim.
Está
em julgamento se na primeira instância, mais especificamente na 13ª Vara
Federal de Curitiba, à época comandada pelo juiz Sergio Moro, houve dolo no
recolhimento das provas. E se Moro e os procuradores da República prevaricaram.
Edson
Fachin, ministro relator da Lava Jato no Supremo, entende que o juízo natural
dos processos sobre o tríplex do Guarujá e o sítio de Atibaia não era a 13ª
Vara Federal de Curitiba – de resto, como sempre advogou a defesa de Lula sem
jamais ter sido ouvida.
Por
isso, Fachin anulou as condenações de Lula nos dois processos, remetendo-os a
um juiz federal do Distrito Federal ainda não designado. Caberá ao juiz aceitar
ou não as provas coletadas em Curitiba, pedir novas investigações ou arquivar
os processos.
O
plenário do Supremo, em breve, se debruçará sobre a decisão de Fachin para
confirmá-la, reformá-la ou revogá-la. Deverá fazê-lo também sobre o que vier a
decidir a Segunda Turma do tribunal que julga um pedido de Lula para que
declare Moro suspeito.
O
ministro Kássio Nunes, membro da Segundo Turma, pediu vista do processo e o
julgamento foi suspenso. Dos cinco ministros da Segunda Turma, dois (Gilmar
Mendes e Ricardo Lewandowski) votaram pela suspeição de Moro. Fachin votou
contra.
A
ministra Cármen Lúcia, que estava com seu voto pronto, preferiu esperar que
Nunes devolva o processo e revele seu voto. Ela quer votar por último. Os pais
de Nunes estão internados em um hospital com a Covid. Faltou-lhe tempo para
preparar seu voto.
Em
resumo, esses são os fatos. Uma vez que Fachin anulou as condenações de Lula, o
ex-presidente deixou de ser ficha suja, recuperou seus direitos políticos e
pode ser candidato no ano que vem. Aqui entram em cena as considerações
políticas.
Se chegar às vésperas das próximas eleições sem ter sido condenado outra vez na primeira instância e na segunda, Lula é o candidato favorito a enfrentar o presidente Bolsonaro no segundo turno. Hoje, pelo menos, são eles que detêm maior capital político.
O
PT teve um dos dois candidatos mais votados em todas as eleições presidenciais
desde o fim da ditadura. Lula disputou e perdeu no segundo turno em 1989, 1994
e 1998. Ganhou em 2002 e 2006. Elegeu Dilma em 2010 e 2014. Haddad perdeu em
2018.
Naquele
ano, preso em Curitiba, Lula liderou com algo como 40% as pesquisas de intenção
de voto até um mês e meio antes da eleição. Bolsonaro estava na faixa dos 20%.
Haddad teve pouco tempo para fazer campanha, mas foi para o segundo turno.
Se
Lula for candidato em 2022, até lá a política se encarregará de apresentá-lo
como o presidente que deixou o cargo com mais de 80% da aprovação – o que é
verdade. E para que não voltasse ao poder, foi vítima de um juiz e de procuradores
mal intencionados.
Um
juiz convidado para ministro da Justiça antes que Bolsonaro, o maior
beneficiado com a condenação de Lula, tivesse sequer sido eleito. Mensagens
trocadas pelo juiz com os procuradores revelariam mais tarde que houve conluio
entre eles.
Lula
lembrará os bons tempos dos seus governos para compará-los com os maus tempos
do governo Bolsonaro. É possível que tente se portar como capaz de reconciliar
o país radicalmente dividido desde a deposição de Dilma e a eleição do atual
presidente.
Bolsonaro
deve estar preocupado a essa altura. Já não é mais tão popular como foi, e sabe
que daqui para frente será só pedreira para ele – pandemia em alta, vacinas por
ora em baixa, auxílio emergencial por poucos meses, governo sem dinheiro,
quebrado.
Apesar
de tudo isso, navegava sem enxergar quem ameaçasse sua reeleição. Agora,
enxerga. E não terá facada a seu favor nem horário de propaganda gratuita só
para ele. Para manter a imagem de político destemido, terá que debater suas
escassas ideias.
Convenhamos:
não será fácil para ele. E poderá ser fácil para quem o enfrente.
PSDB
apressa-se a definir seu candidato a presidente
A
mesma receita insossa
Se
para nada tivesse servido, a possível candidatura de Lula à sucessão do
presidente Jair Bolsonaro obrigou o PSDB a se apressar, na tentativa de
encontrar um nome que possa uni-lo e – quem sabe? – unir a centro-direita. Aqui
ainda é assim: a direita tem medo de se apresentar como tal.
O
candidato do PSDB será escolhido em prévias já marcadas para outubro próximo.
Elas deverão ser disputadas pelos governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo
Leite (Rio Grande do Sul). Até lá poderá surgir um novo nome, mas não é
provável. Sonha o PSDB em atrair o apoio de outros partidos, como o DEM.
Sua
aposta é que uma eleição como a de 2018 jamais se repetirá por sua atipicidade.
Terá mais chances o candidato com maior apoio de partidos, maior tempo de
propaganda no rádio e na televisão, que melhor saiba usar as redes sociais e
que tenha o discurso certo na hora certa.
É
o feijão com arroz que Bolsonaro estragou.
As prévias sempre poderão ser adiadas, a depender da pandemia.
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