Duas
insistentes questões estão postas.
Primeira:
há cinco anos, a tese processual sobre o foro da Lava Jato foi
levantada. Por que ressurgiu, logo agora? A decisão do
ministro Edson Fachin, invocando-a, ocorreu quando o seu
colega Gilmar Mendes já
se preparava para relatar, na Segunda Turma do STF, o que fez ontem, a ação que
contesta a imparcialidade
do juiz Sérgio Moro no julgamento dos processos do
ex-presidente Lula.
Fachin atropelou Gilmar. Aproveitando uma sonolenta tarde de segunda-feira, 8 de março, o surpreendeu com sua decisão monocrática. Precipitou-se para não perder a chance de ser o autor da última palavra.
Na
concepção do seu voto, Lula ganha a vantagem de reaver seus direitos políticos,
com a possibilidade de se candidatar, graças à anulação das sentenças
proferidas em Curitiba. E Moro se livra do julgamento da parcialidade. Já na
linha de Gilmar, ao votar pela suspeição de Moro, são beneficiados, além de
Lula, parlamentares e empresários condenados pelo juiz.
A
segunda questão: ao contrário da primeira, não terá resposta imediata. O que
significam estas decisões para os que propõem uma alternativa ao confronto
Lula-Bolsonaro na sucessão de 2022?
Os dois candidatos caracterizam o confronto radical. A polarização já está nas ruas e nas redes, mas ainda não está na política. A conjuntura é nova, mas não definitiva. Um quadro em processo de construção, portanto, ainda instável.
O
centro é uma hipótese com quatro ou cinco nomes. Terá mais trabalho, agora,
para se colocar e arrebatar o eleitorado. Quem sabe, num cenário otimista,
pode-se descobrir, ao longo da campanha, que os brasileiros estão saturados da
intransigência eleitoral que explora o ódio e a rejeição.
Na
eleição disputada por Collor e Lula, em 1989, nenhum dos dois era protagonista.
No início, as apostas se concentravam nos grandes e conhecidos nomes da
política, como Ulysses Guimarães e Leonel Brizola. Na eleição de 2018, Jair Bolsonaro contava
que, depois de 30 anos como deputado do baixo clero, sua candidatura a
presidente era uma forma de sair de cena bem, transferindo espaço político aos
filhos.
O
subconsciente do eleitor, como se diz, é indevassável. Até que surja o nome
mágico.
Lula
tem condições de atrair parte do centro se o PT raivoso deixar. Dominado pela
ala Gleisi Hoffmann, o lulismo primitivo tem aversão a empresários, imprensa e
partidos. Como se dará com o centro? Bolsonaro ainda pode mitigar o
negacionismo com que trata a pandemia,
e reconquistar apoiadores que perdeu pela crueldade na gestão da atual
catástrofe sanitária. Terá de abandonar o papel macabro de “presidente de
cemitério”, como definiu com precisão o jurista Miguel Reale Júnior.
O
centro terá sobrevida, também, se os extremos, ao partirem para a guerra de
extermínio, assustarem o eleitorado. A disputa da rejeição depende de como Lula
será considerado. Pela amostra da repercussão
internacional da decisão de lhe restituir os direitos
políticos, é possível ter uma ideia. Voltará como um injustiçado e perseguido?
O eleitorado pode achar pouco a devolução da elegibilidade para quem ficou
preso mais de um ano?
Por
outro lado, Bolsonaro está sendo rejeitado até por movimentos de direita.
Tentará esgotar sua reserva de cinismo para se transformar em garoto propaganda
da vacina, que renegou com sarcasmo?
Não há fórmula pronta para os destinos do centro. Esta história a que estamos assistindo não se desenvolve como um roteiro de cinema, em que os papéis do mocinho, do vilão, do juiz e do promotor são carimbados. A realidade política mistura tudo. O eleitorado, entre a tragédia e a ópera bufa, poderá optar pelo bom senso. Que ainda não tem nome nem rosto.
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