O mercado financeiro iniciou o ano sem a mesma empolgação observada ao longo de 2020. Não sem razão. O sentimento resulta dos vários fatores que, conjuntamente, afastam as chances de recuperação da economia este ano - da grave crise na saúde à ausência de plano de ajuste fiscal.
Como se
isso não bastasse, os ruídos causados pelo governo estão mais frequentes. Não
era incomum o presidente recuar em manifestações mal recebidas pelo mercado
financeiro e acenar com pautas reformistas. Seus recuos, porém, estão cada vez
mais tímidos, frustrando investidores que anseiam por ações mais concretas.
É o caso
do episódio de intervenção na Petrobras. É verdade que, desde então, Bolsonaro
suavizou seu discurso e não reagiu aos dois ajustes de preços de combustíveis.
O estrago está feito, no entanto. Foi-se a confiança do mercado.
Mal a
fervura baixou, o presidente trabalhou para excluir o bolsa família da PEC
Emergencial, segundo apurou a jornalista Adriana Fernandes, e recomendou
preservar policiais do ajuste. Houve recuo, mas sem qualquer esforço para que a
proposta trouxesse minimamente o esforço fiscal para o seu mandato.
Há ainda
o silêncio diante das saídas de quadros importantes, como Wilson Ferreira
Junior, da Eletrobras, e André Brandão, do Banco do Brasil.
O presidente segue testando limites. No equilíbrio entre, de um lado, ter ações visando a campanha eleitoral de 2022 e, de outro, acalmar investidores, acusados de pouco patriotas, a balança pende para medidas populistas e leniência com reformas. Assim, os preços de ativos se descolam ainda mais da dinâmica em países emergentes.
Agora
mais um foco de tensão, desta vez causada pela invalidação das condenações de
Lula. O evento expõe as fragilidades institucionais do País, afeta ainda mais a
imagem no exterior, reforça a desconfiança de investidores e coloca no centro
do palco o cenário de polarização nas eleições.
Em 2018,
o mercado financeiro comprou a campanha bolsonarista, com a crença de que Paulo
Guedes não só daria continuidade, mas também reforçaria a agenda econômica de
Michel Temer. Os preços de ativos tiveram excelente desempenho naquele ano – a
bolsa brasileira valorizou 15% enquanto as de emergentes recuaram.
A
julgar pela ausência de projeto de governo e a decepção de investidores,
certamente não será esse o quadro em 2022.
Apesar
de a disputa com Lula ser conveniente para Bolsonaro, pela elevada rejeição dos
eleitores ao ex-presidente, sua reação ao comentar o episódio resume bem os
riscos envolvidos. Depois de esboçar um discreto sorriso ao falar que foi
surpreendido pela decisão de Edson Fachin, o presidente fechou o semblante e
lamentou a reação dos mercados, mostrando que entende que o mau humor dos
investidores prejudica a economia.
O dólar
volátil e em alta pressiona os preços de combustíveis e de alimentos, bem como
os de insumos, penalizando os consumidores e a indústria. De quebra, aumenta o
desafio do Banco Central na condução da política monetária.
O ideal
seria o BC poder contar com a mesma tranquilidade do seu par norte-americano, o
Federal Reserve, para manter os juros baixos, dando o devido desconto à
elevação da inflação, em parte temporária, enquanto aguarda a vacinação em
massa e observa as consequências do fim dos estímulos fiscais e creditícios na
economia.
Não será
possível, porém. Provavelmente, a taxa Selic subirá precocemente, com o
desemprego em alta, em função das tantas confusões que elevam as expectativas
inflacionárias, que, por sua vez, ameaçam arranhar a credibilidade de um BC
inerte.
A alta
dos juros ocorrerá pela razão errada, para compensar erros do governo, e não
porque a economia se recupera. Péssima notícia para o mercado de crédito, que
daria sustentação à economia.
O
cenário de polarização política tornou mais difícil conciliar a agenda
populista com a tranquilidade dos mercados. O espaço para a irresponsabilidade
fiscal diminuiu. E a depender da reação dos preços de ativos, será até
contraproducente do ponto de vista eleitoral, pois dá-se um benefício com uma
mão e tira-se com a outra, com inflação alta e paralisia da economia.
Será
mais difícil repetir 2014, pois a economia está mais frágil – sem contar a
maior vigilância dos órgãos de controle no respeito às regras fiscais.
Definitivamente, o Brasil não é para amadores.
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