Por
Cristiane Agostine / Valor Econômico
SÃO
PAULO - Cotado como pré-candidato à Presidência pelo DEM, o ex-ministro Luiz Henrique
Mandetta afirma que a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
jogo eleitoral de 2022 reduz o espaço para candidaturas de centro e de direita
na eleição presidencial e tende a forçar os partidos desses campos políticos a
se unirem em torno de um único nome.
O
novo cenário eleitoral, diz Mandetta, também tem impacto no prazo para a
escolha do candidato que deve ser lançado como a terceira via entre Lula e o
presidente Jair Bolsonaro. Na avaliação do ex-ministro da Saúde da gestão
Bolsonaro, a definição da candidatura será acelerada e deve ser feita no
segundo semestre deste ano.
O
primeiro sinal dessa pressão sobre a escolha de um candidato de centro-direita
depois da retomada dos direitos políticos do ex-presidente Lula se deu ontem,
quando o PSDB - tradicional aliado do DEM- anunciou a realização de uma prévia
para a escolha de um candidato tucano em 17 de outubro. Os governadores de São
Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, são cotados como
pré-candidatos tucanos.
Mandetta minimiza o fato de partidos de centro e de direita já articularem pré-candidaturas presidenciais próprias, como o PSDB, ou acenarem com possíveis alianças, como setores do DEM têm defendido com o presidente Bolsonaro. Para o ex-ministro, o espaço para a pulverização de candidaturas desse campo político, que havia em um cenário sem o ex-presidente petista, acabou. “O centro deve se unir com entrada de Lula. Com certeza”, afirma em entrevista ao Valor, ontem.
“Em
um quadro sem Lula, poderia ter uma possibilidade maior de fragmentação. Seria
uma disputa para ver quem iria para o segundo turno com Bolsonaro. Agora não,
agora a esquerda determinou seu campo de gravidade e o centro vai acelerar a
discussão [sobre o candidato]”, diz. “É natural que as pessoas se apresentem
para serem porta-vozes do diálogo, mas a tendência sempre foi encontrar um
ponto de equilíbrio, de quem tem maior potencial de crescimento e consegue
compor melhor com todas as forças políticas”, afirma.
O
cenário eleitoral para 2022 foi alterado depois que o ministro Edson Fachin, do
Supremo Tribunal Federal, anulou na segunda-feira as condenações do
ex-presidente Lula nos processos relacionados à Operação Lava-Jato. Com isso, o
petista deixou de ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa e poderá ser candidato
na próxima eleição.
“Esse
quadro abrevia as eleições de 2022”, diz Mandetta. “Pode ser que em 2021 a
gente já tenha encontrado o nome de quem vai levar a mensagem diferente de Lula
e de Bolsonaro. É isso que estará em discussão no cenário político.”
Na
avaliação do pré-candidato do DEM, o fato de o ex-presidente Lula ter retomado
os direitos políticos a pouco mais de um ano e meio da próxima eleição
presidencial poderá ajudar na construção de uma terceira via entre as
candidaturas do petista e de Bolsonaro.
“Melhor
que tenha acontecido agora, a um ano e meio das eleições, do que em julho,
agosto do ano que vem. [Lula] poderia vir com o discurso de mártir, de vítima
da Justiça. Se fosse às vésperas das eleições, teria um forte impacto
eleitoral”, diz Mandetta sobre a decisão do ministro Fachin. “É bom que o PT
assuma que a cara dele é a cara do Lula, de uma política antiquada. É melhor do
que querer colocar [Fernando] Haddad e falar que é um PT light. E é bom que
tenha sido com antecedência, porque facilita a organização política.”
Com
a possível entrada de Lula na disputa presidencial de 2022, o país tende a
ficar cada vez mais polarizado entre os antipetistas e os antibolsonaristas.
Para Mandetta, isso pode facilitar o avanço de uma candidatura de
centro-direita, “moderada” e “convergente”, que apresente uma proposta de
“conciliar e reunificar o país”.
“Os
cenários com Lula e com Bolsonaro são ruins, de conflito, de extremismo. É um
querendo esmagar o outro, fazer revanche”, afirma. “Eles são a mesma crise, a
mesma política com o sinal trocado, um para lá e um para cá. Esses extremos
eles se nutrem, fazem uma simbiose”, avalia o ex-ministro. Mandetta diz ainda
que a radicalização dos apoiadores de Lula e de Bolsonaro pode agravar a crise
política no país e colocar em risco o sistema democrático. “Mais do que nunca é
necessária uma voz ponderada.”
Responsável
pelo comando do Ministério da Saúde no governo Bolsonaro, o ex-aliado deixou a
gestão em abril do ano passado, no início da pandemia, por discordar das
determinações do presidente no combate à covid-19. Mandetta saiu do cargo com
alta popularidade e tem mantido conversas com outros nomes de centro-direita,
como o apresentador Luciano Huck, que não é filiado a nenhum partido, mas é
cotado para 2022. O ex-ministro tenta impedir que o DEM se alie a Bolsonaro
para a disputa presidencial e coloca seu nome à disposição para as próximas
eleições. “Tenho todas as pré-condições para ser candidato: tenho mais de 35 anos,
estou em dia com minhas obrigações e sou brasileiro nato”, diz o político, com
56 anos.
Mandetta
é um dos principais críticos à gestão de Bolsonaro e do Ministério da Saúde no
combate à crise sanitária, mas avalia que não há clima político neste momento
para que o mandato do presidente seja abreviado por meio de um impeachment.
Além de o presidente ter eleito aliados para o comando da Câmara, com Arthur
Lira (PP-AL), e do Senado, com Rodrigo Pacheco (DEM-MG), os questionamentos
sobre a atuação da Justiça no país também devem favorecer a manutenção de
Bolsonaro no cargo até o fim do mandato, em dezembro de 2022, afirma.
Para
o ex-ministro, a decisão de Fachin sobre as condenações de Lula na Lava-Jato e
o julgamento sobre a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro acirram o clima
político no país. “Não tem clima para impeachment, ainda mais agora, com a
Justiça [STF] dizendo que tudo o que fez [na Lava-Jato] foi um grande engano. O
que vai resolver é a urna. A democracia é a porta de saída”, diz.
Em meio a um cenário trágico da pandemia no país, com 268.568 mortes por covid-19 e 11,1 milhões de casos, o ex-ministro da Saúde avalia que a situação só deve melhorar no fim do ano. Ontem o Brasil registrou um novo recorde de mortes pela doença, com 1.954 óbitos em 24 horas. “Vamos perder de goleada do vírus neste semestre inteiro. Depois, empata o jogo em junho, julho, agosto. A partir de setembro, começaremos a vencer, desde que não haja variante [do vírus] resistente à vacina”, diz. “É lastimável que o governo tenha perdido o ‘timing’ da compra da vacina. Poderíamos ter começado a vacinar em novembro.”
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