Bolsonaro
não pode ser um polo porque não tem substância alguma além do terror
Jair
Bolsonaro tentou sabotar todas as providências de contenção de gastos da mudança
“Emergencial” da Constituição, aquela que vai autorizar também o novo
auxílio emergencial. De efeitos práticos maiores nas contas do governo, a PEC
Emergencial vai impedir o aumento de gastos com servidores públicos por alguns
anos e aumentar alguns impostos. Na verdade, a emenda vai exigir que se
cancelem algumas reduções especiais de tributos para indivíduos e empresas, por
meio de lei. Se a lei pegar, haverá um aumento de impostos de cerca de 0,2% do
PIB por ano.
Bolsonaro
queria cancelar tudo isso, mas até a noite desta terça-feira (9), os deputados
haviam decidido deixar a PEC como foi aprovada no Senado (onde já havia sido
amputada e lipoaspirada).
Esse
é o presidente e futuro candidato à reeleição comprometido com as “reformas” e
o “ajuste fiscal”? Esse que não fez abertura comercial. Nenhuma
privatização. Quase nenhuma concessão de empreendimento à iniciativa
privada que não tivesse sido já preparada no governo Michel Temer. No seu
governo, fez-se uma reforma
da Previdência (em parte sabotada por Bolsonaro) que era consenso do
establishment e que não contou com oposição popular quase nenhuma, nem da
esquerda semimorta.
Esse
é o candidato de um dos extremos da “polarização”
que haverá caso Lula da Silva seja candidato em 2022, diz o clichê de burrice
sórdida que escorre da boca dos povos dos mercados desde a segunda-feira.
Bolsonaro não é coisa alguma além de um projeto de tirano. Não é um contraponto ao “esquerdismo” do PT porque, afora o horror, é um vazio. Quem o sustenta no poder, a elite econômica quase inteira, por colaboracionismo, outras ações e omissão, não tem mais desculpa alguma de desilusão quanto ao liberalismo do capitão da extrema direita, ideia que sempre foi grotesca. A elite colaboracionista ou omissa ora está na posição de ter contratado um capanga que saiu do controle, um dos capatazes que chamou para manter o PT longe do poder.
O lulismo-petismo, de resto, foi um projeto suave de incorporação de pobres ao
universo do consumo, de chegada minoritária de algumas minorias ao poder, de
imobilismo na reforma econômica e social de fundo, combinados a uma vasta
distribuição de subsídios e outras proteções ao capital, fundos que financiaram
a formação de conglomerados e oligopólios, fora a roubança, parte muito menor
do jogo.
Ainda
assim, boa parte da elite pagou e talvez ainda pague qualquer preço para manter
o PT (ou equivalente) ao largo, mesmo
que o custo seja Bolsonaro. Na melhor das hipóteses, gostaria de enfrentar
o bolsonarismo com um vazio à esquerda, como se a vaga no segundo turno fosse
conquistada por WO (ou por essas decisões escabrosas da Justiça). Mas mesmo
quando Lula estava expulso de campo, mesmo a parte melhorzinha dessas elites
foi incapaz de articular ou apoiar qualquer candidatura ou movimento político
alternativo, o nome fantasia que tivesse, “centro”, “centro direita”. Agora
mesmo dá corda para o interesse provisório do centrão, o que por ora dá corda
para Bolsonaro.
A direita menos incivilizada do Brasil é incapaz de ganhar eleições nacionais desde 1998 —aliás, foi por isso que começou a apoiar o tumulto odiento em 2013 e, principalmente, depois da derrota de 2014. Desde então e até hoje, criou a situação que, de modo mendaz, chama de intolerável: alimenta o terror de Bolsonaro e faz o que pode para implodir qualquer esquerda.
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