Comitê
criado por Bolsonaro para o combate à pandemia só podia dar errado e deu
Seria
uma reunião dos chefes dos três Poderes para tratar da pandemia, pois o número
de mortos havia passado dos 300 mil. Foi uma palhaçada típica das marquetagens
oficiais. A encenação tinha a ver com o Executivo, e só com ele. Os outros dois
Poderes nunca se meteram com a cloroquina nem com a “gripezinha”. Além disso, a
presença do ministro Luiz Fux na fotografia era meramente simbólica.
Bolsonaro
levou para o encontro alguns de seus ministros e governadores amigos. Ao fim da
reunião, anunciou a formação de comitê para tratar da pandemia e delegou ao
presidente do Senado a coordenação do trabalho com os governadores.
Confundiu
cloroquina com cloro de piscina. O presidente do Senado não tem mandato nem
jurisdição para tratar de um assunto que é só do Executivo. Se isso fosse
pouco, em março do ano passado, quando a Covid havia matado só uma pessoa,
Bolsonaro criou um comitê para assessorá-lo diante da pandemia. Foi entregue ao
chefe da Casa Civil, general Braga Netto. Deu em nada e sumiu. No dia 22 de
março, quando a pandemia matou 1.383 pessoas, ele tirou férias.
O
evento de quarta-feira tinha tudo para dar errado, e horas depois o presidente
da Câmara respondeu:
“Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados.”
(...)
“Os
remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns,
fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se
torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta
presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos
da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência
emocional e da capacidade política.”
Como
ensinou Guimarães Rosa: “Sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão”.
Com suas obsessões e mentiras, Bolsonaro está ficando sozinho. É como gosta e
como sempre esteve, desde quando era um capitão bagunceiro e transmutou-se num
político irrelevante. Essa condição vai bem para a pessoa de Bolsonaro, mas
está arruinando o país.
De
novo, Guimarães Rosa avisou: “O Diabo na rua, no meio do redemoinho...”
Ideologia
e diplomacia
Atribui-se
ao diplomata Ernesto Araújo a condição de integrante de uma “ala ideológica” do
governo.
Em
defesa das tradições do Itamaraty, deve-se registrar que o doutor Araújo nada
tem de ideológico, nunca teve. Na carreira diplomática, há quadros
profissionais, oportunistas e uns poucos ideológicos.
Ideológico,
conservador e até mesmo reacionário foi o embaixador Pio Corrêa (1918-2013).
Chamava John Kennedy de “bestalhão” e lastimava que sua Copacabana dos anos 50
tivesse sido tomada pela “horda pululante e chinfrim de suburbanos
transmigrados”.
Era
embaixador da ditadura em Montevidéu quando a filha do presidente deposto João
Goulart sofreu um acidente. Visitou-a no hospital. Anos depois, escreveu aos
chefe do Estado Maior do Exército denunciado a prática de torturas.
Queimaram
Nunes Marques
Os
çábios do Planalto queimaram o ministro Kassio Nunes Marques. Estimulado a
ficar contra a suspeição do juiz Sergio Moro, o doutor produziu um voto
pedestre e foi moído por Gilmar Mendes.
Machucado,
deu-se a um momento de valentia de vestiário: “Quem me conhece sabe que eu não
me inibo com nada. Para os que não me conhecem, ainda tem um pouco mais de 26
anos para me conhecer”.
Zagallo
foi mais preciso, com menos palavras: “Vocês vão ter que me engolir.”
Estranho
no Ninho
Declarado
suspeito pela segunda turma do Supremo Tribunal, Sergio Moro ficou numa
situação meio girafa no seu novo emprego. Ele foi contratado pelo escritório de
consultoria Alvarez & Marsal como seu sócio-diretor, trabalhando em
Washington.
Com
5.200 funcionários, a Alvarez & Marsal tem 35 anos de existência e atua em
25 países com 65 escritórios. Moro será o único advogado ficha-suja da empresa.
Nos
Estados Unidos, ficha é ficha, suja ou limpa.
Quem
são os “oito”
O
general Eduardo Pazuello caiu atirando, da pior maneira possível. Graças aos
repórter Caio Junqueira sabe-se que na posse de seu sucessor, constrangeu-o
dizendo-se vítima de uma “ação orquestrada” e de “pressões políticas”.
Denunciou “um grupo interno nosso” que em fevereiro “tentou empurrar uma pseudo
nota técnica” defendendo um medicamento. Eram “oito atores”, todos médicos da
equipe que levou para o ministério.
O
general contou que seu rigor blindando o ministério acabaria “dando merda”.
Afinal, “a operação de grana com fins políticos acontece aqui”.
Pazuello
poderia ter denunciado essa situação enquanto estava na cadeira, expondo o
grupo dos “oito”. Preferiu se aborrecer com jornalistas. Tudo bem, ainda há
tempo para que o faça, protegendo seu sucessor.
De
qualquer forma, contribuiu mostrando o tapete debaixo do qual está a sujeira.
Quem
quis sumir com os mortos
Sujeira
debaixo do tapete, há, e persiste. Enquanto o general Pazuello falava dos
“oito”, alguém alterou os critérios de registro de mortos pela Covid no Sistema
de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe. Tornava obrigatória a
informação do CPF, a nacionalidade e o grau de imunização do paciente. Com a
gracinha, num só dia, o número de mortos em São Paulo cairia para 281, contra
1.021 na véspera. Só faltou exigirem um registro presencial, como as provas de
vida dos aposentados.
As
secretarias de Saúde reclamaram, e o doutor Marcelo Queiroga anunciou que a
exigência foi cancelada.
Resta
saber como esse jabuti foi colocado na árvore.
Madame
Natasha
Natasha
concedeu uma de suas bolsas de estudo ao novo ministro da Saúde, doutor Marcelo
Queiroga. Ele entrou em campo pedindo um voto de confiança e disse o seguinte:
“Quem
quer lockdown? Ninguém
quer lockdown.”
No
dia seguinte à fala de Queiroga, quatro defensores de um “lockdown rígido” de trinta
dias assinaram um artigo defendendo a medida.
Entre
eles, a professora Márcia Castro, da Escola de Saúde Pública de Harvard, e
Carlos Lula, Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde.
Queiroga
quis dizer:
Jair
Bolsonaro não quer o lockdown.
Filipe
na Lapa
Na
Lapa, ninguém acredita que o doutor Filipe Martins estivesse ajeitando a lapela
do paletó quando mostrou uma rosca aos senadores. Também não há quem acredite
que estivesse fazendo um gesto dos supremacistas brancos, até porque esse tipo
de gente não aparece por lá.
Na Lapa, o sinal do doutor Filipe quer dizer outra coisa. No Senado, ele pode fazer isso, mas se fizer a mesma coisa num bar da avenida Mem de Sá, ele passará por uma experiência desagradável.
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