Signatários
de carta terão de ver em Lula o mais capaz de bater Bolsonaro
Se
de fato os banqueiros, empresários variados e economistas signatários
da Carta Aberta concluíram que seu apoio a Bolsonaro é suicida, devem preparar-se
para pensar em fazer o impensável.
Seu
candidato à Presidência assustou-se com o retorno
de Lula e já avisou seus inventores de que não trocará os auditórios
de TV pelos palanques da candidatura. Sem a esperança de um milagre com Luciano
Huck, os signatários da carta que enfim pressentem seu próprio desastre,
não pela pandemia mas pela derrocada do país, terão de ver em Lula o mais
capaz, senão o único, de bater o devastador Bolsonaro e
os recursos eleitorais do governo.
Vista
a perspectiva com objetividade, os signatários da carta e seus assemelhados não
tiveram motivo para repelir Lula, em cujo governo obtiveram êxitos e um período
de tranquilidade como em nenhum outro.
Só
muito depois encontraram a corrupção na Petrobras para explicar a
idiossincrasia, mas era um fato que, em inúmeros setores, nunca lhes foi
estranho.
Ciro Gomes tem potencial para uma candidatura importante, mas tudo sugere que sua margem de incerteza é, e tende a se manter, muito maior que a de Lula em disputa com Bolsonaro. A preferência de Huck pelo ganho em vez do risco abre a Ciro Gomes portas largas. Não, porém, entre banqueiros e outros segmentos empresariais que o veem com notória desconfiança.
O
machinho
O
Bolsonaro que vemos nestes dias é o mesmo valentão que, ao se ver abordado por
um assaltante, sacou sua fulminante pistola Glock —e entregou-a ao bandido. Mas
não só. Entregou também a moto. Bateu o medo então, bate o medo hoje. O
Bolsonaro que voltam a ver em transformação, aceitando
a máscara e propagando a vacina, é só o Bolsonaro acovardado. Com citações
à derrubada até na celebração do próprio
aniversário, que indicam onde e como está sua cabeça.
À
falta de arma para entregar, servem os pescoços dos mais próximos
paus-mandados. Eduardo
Pazuello acha que foi degolado por pressão de Arthur Lira, presidente
da Câmara desejoso de ver no cargo uma amiga do peito, ou cardiologista. O
general obediente, na verdade, foi vítima da Carta Aberta em que economistas,
banqueiros e outros empresários mostraram sua delicada discordância com o
consentimento do governo à mortandade pandêmica. A chegada
às 300 mil pareceu suficiente a ex ou ainda bolsonaristas para
merecer-lhes algumas sugestões suaves.
O
noticiário exibiu e falou de um Bolsonaro apressado para dizer-se, na TV,
sempre adepto e praticante das providências mencionadas na carta. Mentiu como
nos melhores momentos do seu cinismo.
Bolsonaro
tinha mais do que pressa, aliás. Tinha pânico desde que soube da carta. Ao
Congresso chegaram informações sobre seu estado, e isso se refletiu no passo
vindouro: a reunião para constituir-se um pretenso comitê dos Três Poderes
contra a pandemia. Não adiantou que só se selecionassem simpatias para o
encontro: não deu para disfarçar o fracasso. Mas deu para comprovar o grau de
desorientação vigente.
À
impropriedade do convite que lhe foi feito, o presidente do Supremo, Luiz Fux,
sobrepôs uma aceitação, embora efêmera, que embaralhava Executivo e Judiciário,
em função estrita do primeiro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aceitou
assumir uma coordenadoria que não lhe compete, para a qual não tem o saber
científico conveniente, e nem se deu conta do que é o comitê desejado pelo
grupo do Planalto: algo que lhe sirva de bode expiatório ou de laranja,
conforme as circunstâncias. Como a função dada ao vice Mourão para a Amazônia.
O
presidente da Câmara, Arthur Lira, parece desejoso de esculpir nova
personalidade política. Não há comparação sua com o antecessor, mas o
crescimento de Rodrigo Maia, no mesmo cargo, é um exemplo estimulante. Lira não
amenizou discordâncias na reunião e, ainda por cima, guardou a melhor surpresa
para pouco depois. Ao voltar à Câmara, fez
um discurso sobre a situação e suas propensões. Lançou-se às mais agudas
considerações feitas fora do exasperado jornalismo, e por uns poucos políticos.
Não faltou lembrar nem “a solução amarga, e até fatal”, que é o impeachment ao
alcance da Câmara.
Com
isso, lá se vai a doidice mais simpática e de conceitos mais engraçados no
governo. Vai para apaziguar críticos parlamentares. Até um militar já se foi, o
coronel Elcio Franco, segundo na caótica hierarquia militar do Ministério da
Saúde. Ao general Braga, por exemplo, convém fugir de correntes de ar no
Planalto. Quase qualquer um pode servir para Bolsonaro entregar os sucedâneos
humanos de sua Glock e da moto.
Ainda
que não seja o mais desejado, pode-se esperar por fatos até mais interessantes
para daqui a pouco.
O
continuísta
Do
novo ministro da Saúde: “Quem
quer o lockdown? Ninguém quer lockdown”. É a nova voz de Bolsonaro e
Pazuello, portanto. Marcelo Queiroga ainda não conhece os resultados europeus e
asiáticos do confinamento. Mas poderia ter deduzido, com menos bolsonarismo a
orientá-lo, que, se as pessoas não se oferecem ao vírus nas ruas e outras
proximidades humanas, o bicho não tem como infectá-las.
O
nosso lugar
Brasil:
mais de 300 mil mortos, é muito difícil imaginar essa quantidade. Quase
7.000 na espera desesperada de um leito em UTI. No estado da riqueza, três
mortos asfixiados por falta de oxigênio. E quatro na fila do último sopro de
vida. No Distrito Federal da presunçosa e riquíssima Brasília, corpos mortos
esperam a remoção, alguns por 24 horas, no chão de unidades de saúde e de
hospital regional.
Vai
piorar, advertem cientistas brasileiros e estrangeiros. Até quando o país tolerará
a omissão das classes e dos políticos que controlam o país, eis a incógnita.
Transcrição, em Toda Mídia por Nelson de Sá, de frase em reportagem sobre a pandemia na rede pública de rádio dos EUA: “O Brasil parece o pior lugar do mundo”.
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