Ajuda paga pelo governo tem de ser capaz de manter as pessoas vivas, em casa e longe do vírus
Mal
saiu a Medida Provisória 1.039 para surgirem dezenas de críticas aos valores do
novo auxílio emergencial (R$
150,00, R$ 250,00 e R$ 375,00). Afinal, qual é o valor ideal para enfrentar a
devastadora pandemia?
De
um lado, o auxílio tem de ficar dentro das possibilidades de gasto do governo
que, no caso, foi fixado constitucionalmente em R$ 44 bilhões. De outro lado,
tem de ser capaz de manter as pessoas vivas, em casa e longe do vírus.
Acertar
esse valor é um enorme desafio. Muitos dizem que, em 2020, houve exagero no valor
que custou ao erário R$ 50 bilhões por mês. Mas, do ponto de vista sanitário,
foi um grande acerto, pois conseguiu manter muita gente isolada por bons meses,
reduzindo a chance de contágio e de morte.
Hoje, com a variante P.1, estamos diante de uma ameaça mais perigosa e com um auxílio emergencial menor. O número dos que terão de sair de casa para buscar alguma renda deve aumentar, gerando, assim, mais doentes e mais mortos. Todavia, em lugar de especular, é melhor buscar soluções.
Na
onda viral de 2020, a sociedade brasileira foi muito solidária no atendimento
aos desamparados. Eu mesmo testemunhei a doação de milhares de cestas básicas
às famílias de uma favela a qual ajudo há mais de 20 anos. Tive momentos de
grande alegria ao ver as empresas atenderem prontamente aos sentidos apelos.
Fiquei tocado também com a generosidade dos beneficiários: uma senhora que
estava na fila há mais de duas horas disse ao entregador de cestas básicas: “Dê
a minha cesta a esta vizinha porque eu ainda tenho umas coisinhas lá em casa...
vou me virando”. Lição de vida!
Neste
ano, a solidariedade continua, mas em outro ritmo. Reconheço que muitos
empresários enfrentam graves problemas de caixa. Mas ainda há empresas e
pessoas que mantêm o seu alto espírito humanitário. As redes sociais estão
ativas nos pedidos. Noto também que várias emissoras de rádio e de TV se
engajaram de corpo e alma no socorro às famílias desassistidas, fazendo isso de
modo direto ou por meio de Organizações Não Governamentais (ONGs).
As
ONGs têm sido muito criticadas. Mas não podemos generalizar. Existem cerca de
300 mil organizações desse tipo no Brasil. Elas fazem o que o governo não pode
fazer por terem velocidade de ação e capilaridade de penetração em ambientes
difíceis.
Os
brasileiros têm sido solidários nas catástrofes climáticas, ambientais e
sociais. Como pessoas físicas, eles doam cerca de R$ 14 bilhões por ano. E
muito mais do que isso é aportado pelas empresas (Ver ONGs no Brasil:
solidariedade em tempos de coronavírus, Estadão, 20/3/2020).
No início da pandemia, já no dia 8 de abril de 2020, as doações para enfrentar
o coronavírus ultrapassaram
a marca histórica de R$ 1 bilhão, contabilizado pelo Monitor das Doações da
Covid-19 da Associação Brasileira de Captadores de Recursos.
Não
podemos desprezar essa ajuda no momento em que o auxílio emergencial aprovado
ficou aquém das necessidades dos pobres trabalhadores informais e suas
famílias. Por isso, convido os leitores a doarem o mais rápido possível. A fome
está vindo a galope.
Tudo
indica que teremos uma abundância de vacinas no segundo semestre e uma
consequente retomada da economia, dos empregos e da renda. Mas, neste momento,
a situação dos destituídos é desesperadora. O vírus está destruindo milhares de
vidas e preparando um futuro difícil em que muitas pontes terão de ser
reconstruídas nos campos da saúde e da educação, principalmente, para as
crianças que conseguirão viver até lá. Ajudemos!
*Professor da FEA-USP e presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP. É membro da Academia Paulista de Letras
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